Sof 248a-248e: Crítica do idealismo

Estrangeiro – Passemos agora para os outros, os amigos das ideias. Interpreta-nos também o que disserem.

Teeteto – Farei isso mesmo.

Estrangeiro – A essência e a geração diferem, e aceitais ambas como distintas, não é isso mesmo?

Teeteto – Sim.

Estrangeiro – E que só participamos da geração por intermédio do corpo, como é com a alma, por meio do pensamento, que nos comunicamos com o ser verdadeiro, o qual, como afirmais, é sempre o mesmo e imutável, ao passo que a geração varia.

Teeteto – Sim, é o que afirmamos.

Estrangeiro – Mas por essa comunicação, varões excelentíssimos, num caso e noutro como diremos que pensais? O que enunciamos agora mesmo?

Teeteto – Que foi?

Estrangeiro – A ação ou a reação de alguma força que se origina do encontro de dois objetos. É possível, Teeteto, que não ouças o que eles respondem; mas eu ouço, por estar habituado a tratar com essa gente.

Teeteto – E qual foi a resposta deles?

Estrangeiro – Não aceitam o que acabamos de expor aos filhos da terra, a respeito do ser.

Teeteto – Que foi?

Estrangeiro – Apresentamos como definição cabal do ser a presença do poder de influir em determinado objeto, por menor que seja, ou de ser influenciado por ele.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – A esse respeito o que eles dizem é que a geração participa, de fato, da faculdade de agir ou de sofrer influências, mas que nenhuma dessas faculdades convém ao ser.

Teeteto – E no que eles dizem, não haverá um grãozinho de verdade?

Estrangeiro – Certo; porém sobre isso teremos de exigir que nos digam claramente se se declaram de acordo em que a alma conhece e que o ser é conhecido.

Teeteto – É o que sem dúvida confirmarão.

Estrangeiro – E então? O conhecer e ser conhecido, como direis que sejam? Trata-se de ação ou de paixão? Ou de ambas as coisas ao mesmo tempo? Ou ambos não terão absolutamente que ver com uma nem com outra?

Teeteto – Evidentemente, esse é o caso: nem um nem outro nada tem que ver com as duas. Desse modo, não cairão em contradição com o que disseram antes.

Estrangeiro – Compreendo. Porém nisto eles terão de concordar: se conhecer é algo ativo, necessariamente o conhecido terá de sofrer sua ação. E, de acordo com essa explicação do ser, sendo conhecido pelo conhecimento, na medida em que for conhecido se movimentará em virtude de sua própria passividade, o que não poderia dar-se, conforme dissemos, com o que está em repouso.

Teeteto – Certo.

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