POL 276c-277a: Pastor divino e pastor humano: Tirano ou Rei?

ESTRANGEIRO — O que devemos, primeiramente, é precisar-lhe o nome, aproximando-o mais da ideia de um cuidado geral do que da ideia de um cuidado pela alimentação, e a partir daí, dividi-la, pois ela mesma será ainda suscetível de divisões que não podem ser negligenciadas.

SÓCRATES, O JOVEM — Quais?

ESTRANGEIRO — A primeira divisão nos levará a distinguir o pastor divino, do administrador humano.

SÓCRATES, O JOVEM — Muito bem.

ESTRANGEIRO — Depois, havendo assim determinado esta arte de cuidar, devemos dividi-la novamente em duas partes.

SÓCRATES, O JOVEM — Como?

ESTRANGEIRO — Distinguindo entre o que é imposto pela força e o que é aceito de boa vontade.

SÓCRATES, O JOVEM — Sim, compreendo.

ESTRANGEIRO — E foi precisamente por não haver feito esta distinção que nós cometemos este erro, mais por distração, confundindo o rei e o tirano, bem distintos entre si, pelas suas maneiras de governar.

SÓCRATES, O JOVEM — É verdade.

ESTRANGEIRO — Corrigindo-nos, dividamos, então, como dizia, a arte do cuidado para com os homens em duas, atendendo a que este cuidado seja imposto pela força ou aceito de boa vontade.

SÓCRATES, O JOVEM — Perfeitamente.

ESTRANGEIRO — Poderemos, então, quando ela se exerce pela força, chamá-la tirânica, e quando seus préstimos, livremente oferecidos, são livremente aceitos pelo rebanho de bípedes, chamá-la política; afirmando, desde já, que quem exercer esta arte e tiver a si estes cuidados será, verdadeiramente, um Rei e um Político?

SÓCRATES, O JOVEM — E assim fazendo, Estrangeiro, creio havermos terminado a nossa demonstração, relativamente ao Político.