A primeira dificuldade relativa à definição do belo é aquela da equivocidade: uma bela panela, uma bela jovem e um belo gesto têm algo de comum? A definição do belo pelo prazer da visão e da audição é apresentada no Hípias Maior como um doxa e bão como i resultado definitivo do diálogo. O estatuto dóxico deste enunciado é confirmado pelo livro VI dos Tópicos de Aristóteles que o cita precisamente como um lugar comum (146a 21-23). Sua retomada por Plotino não se dá sem uma diferença importante: não é mais questão do prazer e a visão se encontra dissociada da audição: «O belo é sobretudo o que está na visão». D. Susanetti indica com razão que há aí, destaco, uma hierarquia entre os sentidos (Plotino, Sul Bello, p. 79); mais ainda, a visão desta primeira frase anuncia a contemplação final do caítulo 9 («tu te tornastes então uma visão», opsis ede genomenos, linhas 22-23). A glosa que propomos: «O belo está sobretudo no que se refere à visão» tende a mostrar que a experiência estética para Plotino vem do encontro de propriedades particulares do objeto visível e de seu modo de aparição na atividade sensorial própria à alama. Não há preeminência entre os dois polos que são o objeto visto e a consciência que vê. A referência à visão e à audição se apoia igualmente sobre o TImeu, 47a-c onde Platão justifica a existência destes sentidos por seu papel fundador na descoberta da harmonia do mundo.
Brisson-Pradeau: Beleza
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