Damiani: O Uno

Buscando por meio destas passagens um vislumbre da natureza incompreensível do Uno, o intelecto deve ser como um pássaro que voando através do ar não deixa traços: a operação do intelecto deve se dissolver na quietude dentro da qual avança. Devemos pensar intensamente no que é a natureza do Uno, e então há um ponto no qual se abandona tudo. Mas não pense que as discussões sejam inúteis, pois o Uno é a única coisa importante que se pode discutir em tua vida — a qualquer tempo e lugar — nada há mais importante.

Plotino apresenta uma filosofia da Unidade: unidade tão inescrutável e transcendente, e unidade tão onipresente e imanente.

Primeiro, na ordem de importância estão as afirmações sobre a existência de Deus, o Uno-Único (One-Only); pois seguindo esta certeza que está no núcleo de tudo que dirá, Plotino transmite para nosso benefício um conhecimentosabedoria ou prima philosophia co-nascente com as fundações de nosso mundo e nosso ser.

“Em que sentido, então,” Plotino indaga em Eneada-VI, 9, 6, “afirmamos esta Unidade e como é ela a ser ajustada a nossos processos mentais?” Esta questão inicia nossa investigação sobre a natureza do Uno.

O Uno é absoluta positividade: pura existência universal se oferecendo com a totalidade de possibilidades e infinidade de poder. Talvez seja mais significativo e provocativo dizer que é inteligência — ou melhor ainda, pura inteligência. Suficiente e completa em si mesma, a única Perfeição é sem parceiro e está além de qualquer limitação, dependência, necessidade, ou multiplicidade de qualquer espécie (Eneada-V, 4, 1).

Esta afirmação de sua transcendência não implica que o Uno é um homogeneidade vazia ou zero; ao invés, que é uma plenitude ilimitada. Visar a compreensão “além ser” não significa que em algum ponto deve cair no abismo do nada. Ao contrário, remover qualquer aseidade (essência única) caracteriza qualquer princípio ou ideia, e a infinidade do transcendente é então conceitualmente disponível.

Embora o Uno esteja além do conhecimento no sentido ordinário, Plotino indica que é um Supra-Conhecimento em um sentido extraordinário. “Não é, por assim dizer, não perceptivo, mas tudo dele, nele está e com ele; é inteiramente autodiscernente” (Deck). Não é excluindo qualidades que o Uno está além de todas as qualidades, mas ao invés porque nenhum caráter distinto pode permanecer intacto em sua atmosfera infinita.

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