Escrita ao regressar Platão de sua viagem ao Egito. Reproduz a defesa de Sócrates diante de seus juízes. Não se ajusta rigorosamente às acusações apresentadas diante do tribunal, mas tem, certamente, valor histórico, pois na data de sua composição viviam todos ou grande parte dos que haviam presenciado o processo.
Plano da Obra segundo Luc Brisson
Para Brisson, na Apologia, Platão eleva ao nível de “mito fundador” da filosofia um fato contingente e de pouco importância quanto à história, a condenação à morte em 399 em Atenas de um indivíduo ao termo de um processo público. E esta transmutação da contingência em exigência absoluta conserva ainda hoje todo seu poder de fascinação. Na Apologia, Platão faz de Sócrates, por sua morte, um testemunho desta convicção: só a prática que inspira sua ação, a saber a “filosofia”, faz que, para um ser humano, a vida vale ser vivida.
Estrutura do Diálogo
- Primeiro discurso: Sobre a culpabilidade de Sócrates
- Exórdio
- Plano do desenvolvimento (18a-19a)
- Refutação
- A. Dos antigos acusadores (19a-24b)
- Parte negativa: o que Sócrates não é
- Não é “um pensador da natureza”
- Não é um sofista
- Parte positiva: o que Sócrates é verdadeiramente. Qual a origem das calúnias levantadas contra ele
- A resposta do oráculo
- A investigação sobre o o sentido desta resposta
- Introdução
- Os homens políticos
- Os poetas
- Os artesãos
- Os resultados da investigação
- Origem das calúnias
- Sócrates compreende que Apolo lhe deu uma tarefa
- Aparição de imitadores que aumentam a agressividade a respeito de Sócrates
- O que leva à queixa de Meletos
- Parte negativa: o que Sócrates não é
- B. Dos novos acusadores: interrogatório de Meletos (24b-28a)
- Introdução
- Sobre a educação
- Sobre o ateísmo
- Interpretação da queixa: Sócrates corrompe os jovens sobre a questão dos deuses
- O que leva Meletos a se contradizer
- Conclusão
- C. Conclusão geral (28a-b)
- A. Dos antigos acusadores (19a-24b)
- Digressão
- A. Primeira objeção: o modo de vida escolhido por Sócrates é perigoso. Este modo de vida prova a piedade de Sócrates que se pôs a serviço do deus (28b-31c)
- Considerações tiradas do “conveniente” (kalon)
- Princípio geral: a tarefa conta mais que a vida
- Aplicação ao caso de Sócrates: a ameaça de morte não impedirá Sócrates de realizar sua tarefa
- Considerações tiradas do “vantajoso” (to ophelon)
- Os acusadores não podem causar nenhum prejuízo a Sócrates
- A tarefa atribuída a Sócrates aporta um benefício à Atenas
B. Segunda objeção: Sócrates deveria ter tomado uma parte ativa na vida política. Sua resposta mostra que sua influência sobre os jovens foi salutar (31c-34b)
- Sócrates disto foi dissuadido por seu signo divino
- É impossível permanecer honesto se se envolve com política em Atenas
- Eis porque Sócrates se manteve nas discussões privadas, das quais não excluiu ninguém
- Sua influência sobre os jovens foi salutar
- Considerações tiradas do “conveniente” (kalon)
- A. Primeira objeção: o modo de vida escolhido por Sócrates é perigoso. Este modo de vida prova a piedade de Sócrates que se pôs a serviço do deus (28b-31c)
- Peroração: Sócrates não vai suplicar aos juízes:
- Não seria conveniente nem para ele nem para Atenas
- Isto não seria conforme à justiça
- Isto não seria conforme à piedade
- Segundo discurso: Sobre o estabelecimento de uma pena
- A. Introdução: Sócrates foi reconhecido culpado por uma corte majoritária (35e-36b)
- B. Proposições de pena
- Em função daquilo que ele merece
- É um benfeitor da cidade, e ele é pobre
- Em seguida, ele merece ser nutrido às custas da cidade
- Em função das regras judiciárias
- Sócrates não merece pena: o exílio no seu caso não serviria para nada
Se os juízes insistem para que Sócrates proponha uma pena, Sócrates propõe uma multa de 1 mina, proposição que elevada a 30 minas
- Sócrates não merece pena: o exílio no seu caso não serviria para nada
- Em função daquilo que ele merece
- Terceiro discurso (ou melhor conversação informal)
- A. Aos juízes que votaram por uma condenação à morte (38c-39d)
- Introdução: sua responsabilidade
- Comparação entre Sócrates e seus acusadores
- Sócrates terá um atenuante
- B. Aos juízes que votaram por sua quitação (39e-42a)
- O signo divino não o advertiu de nenhum perigo
- Duas representações populares da morte
- Sócrates tem confiança na Providência: ele pede aos juízes que se ocupem de seus filhos
- A. Aos juízes que votaram por uma condenação à morte (38c-39d)