Enéada I, 6, 8: A fuga para o “aqui em baixo”: Ulisses e Narciso

Tradução para o português de Américo Sommerman
Retirado de “Do Belo, tratado de Plotino

8. Mas o que temos de fazer para chegar a isso? Qual é o caminho para alcançá-lo? Como poderemos ver essa beleza imensa que permanece, por assim dizer, no interior do santuário e não se dirige para fora para ser vista pelo profano? Que aquele que pode fazê-lo siga-a até a sua interioridade, abandonando a visão dos olhos, e não se volte para o esplendor dos corpos que admirava antes. Quando vemos as belezas corporais, não devemos correr atrás delas, mas saber que elas são imagens, traços e sombras e portanto devemos fugir em direção àquela beleza da qual elas são uma imagem. Se corremos para apanhar as imagens como se fossem reais, somos semelhantes ao homem que quis apanhar sua bela imagem refletida nas águas, caiu em suas profundezas e desapareceu. O mesmo ocorrerá com quem se prende à beleza dos corpos e não quer abandoná-la, porém, não será a sua alma e não o seu corpo que mergulhará nos tenebrosos abismos e, tanto aqui como no Hades, a sua inteligência viverá apenas com as sombras.

Fujamos então para a nossa querida pátria , eis o melhor conselho que se pode dar. Mas como fugir? Como encontrar o caminho para tornar a subir? Devemos fazer como Ulisses, que, como diz o poeta, fugiu dos feitiços de Circe ou Calipso, não consentindo em ficar junto a elas apesar dos prazeres e de todas as belezas sensíveis que encontrou ali. Nossa pátria é o lugar de onde viemos e nosso Pai está lá.

Como fazer então para fugir e chegar a ela? Não podemos fazer isso com nossos pés, pois nossos passos sempre nos levam de uma terra a outra; tampouco devemos preparar uma carruagem ou um navio. É preciso deixar tudo isso de lado e passar da visão corporal para uma outra visão que todos possuem mas usam.