Enéada VI,8,2 — A que faculdade da alma reportar o que depende de nós?

[BRISSON, Luc & PRADEAU, Jean-François. Plotin. Traités 38-41. Paris: GF Flammarion, 2007 (ebook)]

2. Mas eis o objeto de nossa investigação: isso que se nos imputa como dependendo de nós [eph hemin], a que se deve o atribuir? Seja de fato se o atribua à tendência e a um desejo, qual quer que seja sua natureza: por exemplo, o que é realizado ou isto que se se abstêm por cólera, por desejo físico ou por um raciocínio sobre o que nos é útil acompanhado por um desejo. Mas se é por cólera e por desejo físico, concederemos às crianças e aos animais a capacidade de realizar qualquer coisa que deles depende, assim como aos loucos, às pessoas que estão fora delas mesmas, àqueles que estão sob o domínio de drogas ou cujo espírito é assaltado por imagens das quais não são os mestres. Por conseguinte, se é por um raciocínio acompanhado por um desejo, é que isto que é realizado devido a um raciocínio errado depende também de nós? Não é de preferência o caso disto que é realizado por um raciocínio reto e por um justo desejo? E no entanto, mesmo então, se deverá buscar se é o raciocínio que move o desejo ou se é o inverso. Pois se os desejos são conformes à natureza, é seja que pertencem ao ser vivente e ao composto, e, então, a alma segue a necessidade natural, seja que eles pertencem à alma unicamente, e muitas coisas das quais se afirma atualmente que elas dependem de nós estarão de fato fora de nosso alcance. Por outro lado, qual será o raciocínio puro que precede nossas paixões? Ou ainda a imaginação, quando ela constringe, ou o desejo, quando ele nos conduz, qual que seja o ponto onde ele nos conduz, como nestas circunstâncias eles nos tornariam mestres de nossos atos? E, de maneira geral, como seríamos mestres aí onde somos conduzidos? Pois o que está necessariamente em falta e que deseja ser preenchido não é mestre disto para o que é totalmente levado. E, em regra geral, como um ser seria por ele mesmo, enquanto vem de um outro e que encontra seu princípio em se reportando a este outro que o engendrou tal qual é? Ele vive com efeito conforme a este princípio e tal que foi modelado por ele. Senão os seres inanimados possuirão eles também a capacidade de realizar qualquer coisa que deles depende. O fogo ele mesmo com efeito age tal qual foi engendrado. Mas se o ser vivo, ou mais precisamente a alma, conhece o que ela produz, que é que isso adiciona ao fato que coisas dependem dela? Seja é pela percepção que ela os conhece (mas então de que socorro isso pode ser relativamente à capacidade de fazer depender algo de si? Depois de tudo, a percepção não faz de um ser mestre de seus atos pelo único fato que ela vê!), seja é pelo conhecimento: se é pelo conhecimento disto que é produzido, neste caso ainda, ela não faz senão saber, mas é alguma coisa de outro que leva à ação. Se em revanche a razão, ou o conhecimento, age em ido ao encontro do desejo e o domina, é preciso buscar a que relacionar esta dominação e, de maneira geral, onde ela se produz. E se a razão produz ela mesma um outro desejo, é preciso compreender como. Mas se, em pondo fim ao desejo, a razão permaneceu em repouso, e se aí está o que depende de nós, isso não se situará na ação, mas residirá no intelecto. Pois tudo o que pertence à ação, quando mesmo a razão domina, resta misturado e não pode depender puramente de nós.

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