Escritos na Internet
Heráclito (540-480) (nossa página)
The fragments of the work of Heraclitus of Ephesus on nature; translated from the Greek text of Bywater, with an introd. historical and critical
Eraclitu
Eraclito; testimonianze e frammenti
Heidegger: Heraclitus [1966-1967]
Eraclito, nuovi studi sull'orfismo
Herakleitos von Ephesos: griechisch und deutsch
Não sabemos praticamente nada da vida de Heráclito e as suas datas não podem mesmo ser fixadas com certeza. Talvez possamos, ainda assim, admitir a asserção de Apolodoro segundo a qual teria o seu florescimento na LXIX Olimpíada, isto é, por volta de 500 a.C., quando Dario I era rei dos Persas.
Pertencia a uma família aristocrática muito ilustre de Éfeso e parece ter conservado uma espécie de desdém a respeito dos homens, pormenor que se encontra claramente expresso em alguns dos seus fragmentos, onde fustiga os hábitos políticos de seus concidadãos. Uma tradição apresenta-o de humor melancólico e autores cristãos, portanto tardios, afirmam que teria sido perseguido por ateísmo.
Não se sabe muito bem que mestres poderia ter tido; fez-se dele discípulo de Xenófanes, mas parece que este último teria já deixado a Jônia quando Heráclito nasceu. Em todo o caso, deve ter lido o poema deste e conhecido as cosmologias dos Milésios, pois nos diz (fgt. 38) que Tales foi o primeiro astrônomo. Cita igualmente Pitágoras (fgt 81) e Hecateu. É provável que a obra de Heráclito fosse conhecida de Parmênides, que devia ser vinte e cinco anos mais velho.
Não se sabe com certeza o título da obra de Heráclito; segundo Diógenes Laércio, que enumera vários, esse livro estaria dividido em três partes: uma tratando do universo, a outra da política e a última da teologia.
Diógenes Laércio relata diversas lendas sem interesse a respeito da morte de Heráclito, que deve ter ocorrido cerca de 470.
Conhece-se a obra de Heráclito somente através de curtos fragmentos; desde cedo uma reputação de grande obscuridade rodeou o filósofo, que acabou por ser cognominado de «Obscuro» (skoteinos). Tal obscuridade resulta talvez do facto de o livro ter sido escrito em dialecto jônio e de numerosas questões gramaticais se levantarem a seu respeito, como já assinalava Aristóteles. No entanto, muitos pretendem que a obscuridade de Heráclito era desejada e que o Efésio se teria refugiado no hermetismo a fim de ser compreendido apenas de um pequeno número de iniciados; o próprio Sócrates confessava que lhe seria necessário o auxílio de um bom «nadador de Delos» para se permitir a leitura de tal livro. Heráclito era, pois, tido por um «fazedor de mitos»; mas talvez o fosse também, por assim dizer, contra sua vontade. Apresenta-se, com efeito, como o mensageiro de um Logos que o ultrapassa e de que é apenas o intérprete. Ora a sua voz, como a da sibila de que fala, atravessou os séculos para chegar até nós trazendo algo bem diferente das fórmulas gastas por um sentido único e compreendido uma vez por todas. Os fragmentos de Heráclito falam, por assim dizer, sem cessar e jamais deixarão de nos transmitir Sentido. Nenhuma interpretação poderá esgotá-los, explicitá-los e pôr um ponto final no problema da sua interpretação. A sua própria concisão resulta do esforço que a expressão teve de fazer para conseguir situar-se entre o «tudo» e o «nada»: desligou-se do silêncio, mas, não podendo dizer tudo, religou-se ao Sentido, que não esgota nas palavras que dele dimanam. Eis a razão por que os fragmentos de Heráclito não cessam de nos falar: são testemunhos do tempo que vêm, por conseguinte, surgir sempre no nosso. (Jean Brun, “PRÉ-SOCRÁTICOS”)