Protágoras

Trata da virtude em geral, e em especial se pode ser ensinada. Contra os sofistas. Se propõe assinalar a diferença entre o método socrático e a sofística.


Resumo de Jean Brun
No Protágoras, ou os Sofistas, Protágoras define a sofística como uma arte de educar os homens. Ao contrário de Hípias, que ensina o cálculo, a geometria, a música, a astronomia e todas as outras ciências, Protágoras pretende unicamente ensinar a prudência e o bom conselho (euboulia) relativamente à vida dentro da família e da cidade. Deste modo, Protágoras parece não confundir a técnica e a educação e é isso que vemos no famoso mito deste diálogo (320 c). Quando os deuses criaram os mortais, encarregaram Epimeteu e Prometeu de lhes dar um certo número de qualidades. Epimeteu dá a uns a força, a outros a agilidade, a resistência ao frio, asas, cascos, etc. Quando chega a altura de dar alguma coisa aos homens não resta nada. Prometeu decide então roubar a Hefeste e a Atena o fogo e o conhecimento das artes. No entanto, apesar das suas técnicas, os homens não foram capazes de viver em cidades porque não possuíam a ciência política. Zeus envia-lhes então Hermes que lhes traz a veneração e a justiça (aido te kai diken, 322 c), fundamentos da política, e é por isso, conclui Protágoras, que se ouve indiferentemente toda a gente nas assembleias públicas.

Protágoras, mestre da virtude, tem assim o comportamento de um sociólogo à maneira de Durkheim. Para ele, de facto, a moralidade nasce da pressão constante que os diferentes grupos exercem sobre o indivíduo (325 c). Assim, a sociedade ensina-nos a virtude tal como nos ensina a nossa língua materna, de modo que toda a gente é professor de virtude; pode eventualmente dizer-se que uns ultrapassam os outros na ajuda à virtude e Protágoras considera-se como um desses, por isso não hesita em pedir dinheiro em troca das lições que dá. Depois de uma acérrima discussão, Sócrates vai mostrar que a consciência colectiva e popular assimila o agradável e o bem e reduz o mal à dor; no entanto, simultaneamente, admite-se que o homem se deixa desviar do bem pela dor ou se deixa levar para o mal em busca do prazer. O homem que age assim, erradamente, é portanto vítima de um erro de cálculo e de uma ignorância; falta-lhe uma ciência da medida (357 a), da justa medida. Por isso, diz Sócrates ironicamente, a multidão precisa desses professores de virtude que são Protágoras, Pródico e Hípias, precisa de aprender com eles uma ciência que lhe faz falta (357 e). Os interlocutores de Sócrates, que aprovam essas afirmações lisonjeadoras, são apanhados na ratoeira: se a multidão precisa de aprender a virtude desses professores, é porque a virtude não é um dado social, como pretendia Protágoras, mas antes um saber que se procura. Por isso não é na tradição da multidão que se irá encontrar a medida de que necessitamos, visto que essa multidão precisa de aprendê-la com professores de virtude.