Dualismo (Abel)

ABEL, Olivier. L’éthique interrogative. Paris: PUF, 2000, p. 29.

Fala-se frequentemente, em história da filosofia e das mentalidades, de “dualismo”. Fala-se disso para Platão, para Plotino e todas as sínteses medievais, para Descartes, etc. Mas na eventualidade do enunciado da doutrina ser o mesmo (não é verdadeiramente o caso), ela ainda assim não responde às mesmas questões. Em Descartes, a separação do corpo (que é geometria) e do pensamento (que é inteligência e vontade) serve a fundar a ciência. Em Plotino e os neoplatônicos, o dualismo do espírito e da matéria serve a não comprometer Deus com o mal. Em Platão, enfim, as dualizações servem a não apagar rapidamente o múltiplo no Uno. Assim, a mesma doutrina que nós interpretamos ingenuamente em relação às questões implícitas que nós lhe colocamos, respondeu historicamente a questões muito diferentes; e ela tomou portanto sentidos muito diferentes segundo às questões sucessivas, de que cada uma remanejou profundamente a doutrina por inteiro.

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