ágnôstos: desconhecido, não cognoscível
1. Devido à transcendência de Deus surgem alguns problemas acerca da possibilidade de este ser um objeto de conhecimento. Um agnosticismo simples é defendido por Protágoras (Diels, frg. 80B 4) onde a questão se subdivide em duas: a de saber se os deuses existem e a de qual é a sua natureza; o problema da agnosia trata, mais propriamente, do último aspecto (sobre a questão da sua existência, cf. theos).
2. Dada a importância da transcendência na tradição platônica, o problema da cognoscibilidade de Deus era aí fulcral; o texto platônico comprovador da dificuldade de conhecer Deus era o Timeu 28c, apoiado pelos comentários pessimistas no Parm. 141c-142a, Symp. 211a, e especialmente, Ep. VII, 341b-d. Como está indicado nos textos referidos, o problema é a transcendência do princípio supremo, o «Bem para além do Ser» da Republica VI, 509b (ver hyperousia). Mas se a essência de Deus não podia ser diretamente apreendida, os mesmos textos e outros similares de Platão sugerem outras vias para conhecer Deus, altamente desenvolvidas no platonismo posterior (Albino, Epit. X e Máximo de Tiro, VII e XVIII; comparar Proclo, Elem. theol., prop. 123). As principais são:
a) por regresso indutivo à fonte (epagoge, a via eminentiae medieval); ver Symp. 209e-211e e confrontar Plotino, Enéadas I, 6.
b) por analogia (analogia); ver Republica VI, 508a-c e confrontar Plotino, Enéadas VI, 7, 36; dado que Proclo negou qualquer participação (methexis) entre o Uno e o resto da realidade (Elem. theol., prop. 23), ele está excluído da via analogiae.
c) por «remoção», negação (aphairesis; a via negativa); ver a primeira «hipótese» do Parmênides, que os platônicos posteriores tomaram num sentido nada hipotético; confrontar Plotino, Enéadas VI, 7, 32.
d) por união mística (ekstasis); cf. Symp. 210e-211a, Ep. VII, 340c-d; Enéadas VI, 9, 9-11 e, para a experiência pessoal de Plotino, Porfírio, Vita Plot. 23; ver hen. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]
Segundo Abbagnano, a atitude de agnosia é de quem professa nada conhecer, como a de Sócrates, que afirmava só saber que não sabia (Platão, Ap., 21 a), reforçada pelo cético Arcesilau, que dizia não saber nem mesmo isso (Cícero, Acad., I, 45). Para T.M. Robinson, analisando o Górgias de Platão, a exposição da noção de não-iniciado” em termos de ignorância está certamente de acordo com o intelectualismo socrático, e, se a citação de fato vem de algum “rapaz esperto” que não o próprio Platão, pode-se ver por que Sócrates é mostrado como estando preparado para escutar. Qualquer que seja a proveniência da imagem, entretanto, o ponto a ser notado é que, apenas no caso do não-iniciado ou do ignorante, aquela parte da alma que abriga os desejos é chamada de peneira ou vasilha que vaza.