Alexandre de Afrodísias: deliberação

Excerto de SHARPIES, R.W.. Alexander of Aphrodisias – On Fate. London: Duckworth, 1983, p. 55-56

XI. Além disso, a consequência, se todas as coisas que advêm seguem algumas causas que foram estabelecidas de antemão e são definidas e existem anteriormente, é que os homens deliberam em vão acerca das coisas que eles têm que fazer. E se a deliberação fosse em vão, o homem teria o poder da deliberação em vão. (E, no entanto, se a natureza não faz nada do que é primário em vão, e o homem sendo uma criatura viva com o poder da deliberação é um produto primário da natureza (e não algo que (meramente) acompanha e acontece junto com os produtos primários), seria tirada a conclusão de que os homens não têm o poder de deliberar em vão).

Essa deliberação é em vão, se tudo vem a ser por necessidade, pode ser facilmente realizado por aqueles que conhecem o uso da deliberação. Todos concordam que o homem tem essa vantagem da natureza por sobre aos outros seres vivos, que ele não segue as aparências da mesma maneira que eles, mas tem raciocínio desde ela como um julgador das aparências que impingem sobre ele concernentes a certas coisas enquanto merecem ser escolhidas. Usando isso, se, quando são examinadas, as coisas que apareceram são de fato como apareceram inicialmente, ele concorda com a aparência e então as persegue; mas se parecem diferentes ou algo mais (parece) mais merecedor de ser escolhido, ele escolhe isso, deixando para trás o que inicialmente parecia a ele como merecedor de escolha. De qualquer forma (existem) muitas coisas (que), parecendo diferentes para nós em suas primeiras aparições (do que apareceram para nós posteriormente), não mais permaneceram como em nossa noção anterior de quando a razão as colocou à prova; e assim, embora tivessem sido feitas no que diz respeito à aparência delas, por causa de (nossa) deliberação sobre elas, elas não foram feitas – nós estávamos no controle da deliberação e da escolha das coisas que resultou da deliberação.

É, de qualquer forma, por esse motivo que não deliberamos sobre as coisas eternas ou sobre as coisas que concordam em ser necessárias – porque nenhuma vantagem nos chegaria de deliberar sobre elas. E também não deliberamos sobre as coisas que não são necessárias, mas dependem de outras pessoas, porque também não há nenhuma vantagem em termos de deliberação sobre essas coisas. Ainda não deliberamos sobre as coisas que puderam ser feitas por nós, mas são passadas, porque nenhuma vantagem chega até nós por deliberação sobre essas coisas também. Mas nós deliberamos apenas sobre as coisas que são feitas por nós e no futuro, claramente com o argumento de que obteremos algo disso (deliberando) para a escolha e a realização delas.

Pois se não deliberarmos naqueles assuntos em que nenhuma vantagem nos chega de deliberar além do fato de ter deliberado, é claro que, naqueles assuntos em que deliberamos, deliberamos sobre eles (porque) obteremos alguma vantagem de deliberar além do fato de ter deliberado. O fato de ter deliberado a si próprio, de qualquer forma, é uma consequência desfrutada também por aqueles que deliberam sobre as outras coisas das quais falamos anteriormente.

Qual é então a vantagem da deliberação? Que nós, tendo poder sobre a escolha das coisas a serem feitas, escolhemos e fazemos o que não teríamos feito se não tivéssemos deliberado, porque teríamos feito outra coisa por ceder à impressão que colidiu (sobre nós; nós escolhemos e fazemos) o primeiro, e não o segundo, quando parece que a razão é mais merecedora de escolha. E isso acontecerá se não fizermos tudo obrigatoriamente. Mas se devemos fazer tudo o que fazemos através de algumas causas estabelecidas de antemão, de modo a não ter poder para fazer essa coisa em particular ou não, mas (apenas) para fazer exatamente cada uma das coisas que fazemos, da mesma maneira que o fogo que aquece e a pedra que é carregada para baixo e o cilindro que desce a ladeira – que vantagem nos traz, no que diz respeito à ação, a deliberar sobre o que será feito? Pois (nesta visão) é necessário que, mesmo depois de deliberar, façamos o que teríamos feito se não tivéssemos deliberado, para que nenhuma vantagem nos venha da deliberação além do fato de ter se deliberado.

Mas, de fato, (embora) pudéssemos fazer isso mesmo no caso daquelas coisas que não dependem de nós, recusamos fazê-lo com o argumento de que era inútil. Portanto, (na hipótese de nossos oponentes), a deliberação será inútil, mesmo nos casos em que a usarmos, alegando que ela fornece algo útil para nós.

Daí decorreu que o presente da natureza para nós de ter o poder da deliberação é em vão; e se a isso foi acrescentada a visão defendida por esses homens e em comum por quase todos os filósofos, que nada é produzido pela natureza em vão, que (premissa) seria refutada a partir da qual se seguiu que nosso poder de deliberação foi em vão. Mas isso se seguiu ao fato de não termos um poder tão grande sobre as coisas feitas por nós, a fim de podermos fazer seus opostos.