O ímã transmite ao ferro uma certa qualidade própria pela qual, tornando o ferro muito semelhante ao ímã, se inclina para esta pedra. Esta inclinação, na medida em que parte desta pedra e se volta para ela, chama-se, sem dúvida, inclinação pétrea. Mas, na medida em que está no ferro, é igualmente ferro e pedra. A inclinação não está na matéria pura do ferro, mas na matéria já formada pela qualidade da pedra, mas conserva as propriedades de ambas. Para falar mais claramente, também o fogo, pela sua qualidade, isto é, pelo seu calor, acende o linho. O linho, suspenso no ar pela qualidade do calor, voa para a região superior do fogo. Assim, o voo que, na medida em que é excitado pelo fogo, se volta para o fogo, chamamos certamente ígneo. Mas na medida em que está no linho, não puro, mas já aceso, chamamos-lhe, por natureza, tanto de linho como de fogo, igualmente de linho e de fogo.
A figura do homem, muitas vezes muito bela aos olhos por causa da bondade interior felizmente concedida por Deus, transmite ao espírito, através dos olhos que a contemplam, o raio do seu esplendor. O espírito, atraído por esta centelha como por um anzol , é atraído para aquele que o atrai. Esta atração, que é o amor, uma vez que, em função do que é bom, belo e feliz, se dirige para o mesmo, chamamos-lhe inquestionavelmente belo, bom, feliz e deus, segundo a opinião de Agatão e dos outros antes dele. E porque ele está no espírito já aceso pela presença desse belo raio, somos obrigados a chamar-lhe uma certa afeição entre o belo e o não belo. Pois o espírito que não recebeu a imagem de qualquer coisa bela não a ama como algo desconhecido para ele. E aquele que possui toda a beleza não é movido pelos estímulos do amor. De fato, quem deseja aquilo que tem? Só resta, então, que o espírito se consuma em amor ardente quando, tendo encontrado a bela aparência de alguma coisa bela, por essa primeira degustação é incitado à posse inteira da beleza. Assim, pois, como o espírito do amante possui a coisa bela em si mesma e em parte não a possui, ele é, sem dúvida, em parte belo e em parte não belo. E assim consideramos o amor, por esta mistura, como um afeto intermédio entre o belo e o não belo, participando tanto de um como de outro. E é certamente por esta razão que Diotima, para voltar a ela, chamou ao amor um demônio. Porque assim como os demônios estão no meio entre as coisas celestes e as coisas terrenas, assim também o amor ocupa o meio termo entre o informe e a forma. No seu primeiro e segundo discurso, Giovanni evidenciou suficientemente esta região intermédia entre a natureza deformada e a bela.
FICINUS, M. De amore: comentario a “El Banquete” de Platón. Rocío de la Villa Ardura. 3. ed ed. Madrid: Técnos, 1994.