anfisbena

ANFISBENA MITOLÓGICA; ANFISBENA

A ANFISBENA ANTIGA
A Antiguidade inteira foi penetrada do incessante pensamento do Bem e do Mal, lutando sem trégua um contra o outro, combate que se dá ao mesmo templo no macrocosmo, que é o Universo e sobretudo no Microcosmo, o mundo ideal e reduzido que é o ser humano. E a Antiguidade simbolizou esta guerra incansável por mitos impressionantes tais como a luta de Zeus contra Tifão, aquela de Apolo contra Píton, aquela de Cadmos contra o dragão da fonte de Dirce, aquela de Hércules contra os monstros, etc.; ela a figurou por emblemas dos quais um dos mais singulares é a Anfisbena.

Este fabulosos réptil, cujo nome grego Amphisbaina significa «aquele que anda dos dois lados» foi tomado a sério pelos naturalistas gregos e latinos. O que quer dizer que era conhecido de nome há muito tempo antes destes naturalistas. Plínio o descreve assim: « A anfisbena tem uma dupla cabeça, quer dizer uma cabeça no rabo, como se não bastasse um só boca para lançar seu veneno ».

Este estranho réptil, este animal impossível, que compõem dois corpos costurado juntos, e condenados a puxar em sentido contrário a quem puxar o outro, ou bem a se enrolar um contra o outro em um duelo inevitável, representou, nos neoplatônicos de Alexandria os dois princípios bom e mau que disputam entre si o império do mundo, o império das almas. Foi por estas duas partes o « agathodaimon », o gênio do Bem, o « kakodaimon », o gênio do Mal. É o sentido que a anfisbena guardou durante todo o curso dos séculos seguintes.

Na Idade Média só fez repetir o que Plínio tinha escrito. Várias figurações da Idade Média, e mais recentes, representam a anfisbena como feita de uma serpente negra e de uma serpente de prata ou de uma serpente de ouro.

Na heráldica medieval, a serpente superior da anfisbena, foi provida de um elegante par de asas; e aquela de baixo tinha por vezes patas.

É possível que este emblema nos tenha vindo dos hiperbóreos, em tempos fabulosamente longínquos, tendo chegado a ser representado até na Abissínia.

CHARBONNEAU-LASSAY, L. Le Bestiaire du Christ. Paris: ALBIN MICHEL, 2014.