apatheia

apatheia: não afetado, sem pathe

1. O conceito aristotélico de virtude, fundado, como é, na doutrina do meio (meson), não tem lugar para o estado de apatheia. Contudo ele tem de fato um significado na sua psicologia: é a aparente apatheia do nous que sugere que esta faculdade, ao contrário da psyche, seja incorpórea e imortal, visto que os pathe estão sempre associados com a matéria (De anima 403a, 408b).

2. A situação com Epicuro é um tanto ou quanto mais. complexa. Uma vez que tanto o prazer como a dor são pathe (D. L. X,34), não se pode pôr o problema de a apatheia constituir uma virtude nesta filosofia hedonística. Mas o tipo mais elevado de prazer é para Epicuro precisamente estático (ver hedone), e este estado de equilíbrio ou libertação da perturbação (ataraxia) tem pelo menos uma semelhança superficial com a apatheia.

3. A diferença radical entre Epicuro e os estoicos a este respeito reside na insistência destes de que todos os pathe são movimentos irracionais contra a natureza, pelo menos como Zenão os definiu (SVF I, 205, 206; ver horme). Isto criou dificuldades a Crisipo que não conseguiu ver como as afeições irracionais podiam ocorrer na faculdade racional (hegemonikon; ver SVF, III, 459, 461). Mas embora fossem discutidas as dificuldades disto, a Stoa foi unânime em concordar que os pathe eram violentos e não naturais e por isso deviam ser extirpados (ver Sêneca, De ira I, 8, 2-3; SVF I, 207, III, 389). Assim podia parecer que os estoicos estão empenhados em erradicar os pathe, os peripatéticos em moderá-los e os epicuristas em descriminar o bem e o mal que existe entre eles (ver Sêneca, Ep. 116, 1), atitudes reminiscentes das diferentes aproximações da katharsis como harmonização e purificação.

4. O uso, se não a enunciação da apatheia teve as suas origens nos cínicos e nos movimentos relacionados que precederam imediatamente Zenão, e era frequentemente acompanhado da acusação de que os que a usavam estavam pura é simplesmente a resvalar para a insensibilidade (Sêneca, Ep. I, 9, 1). Os estoicos viram-se em apuros para distinguir a sua versão de apatheia da insensibilidade ou da mera estupidez (D. L. VII, 117; Sêneca, Ep. I, 9, 3). De fato, é provável que fosse precisamente deste tipo de crítica que resultou a distinção, em geral com pouca consistência, entre os pathe bons (eupatheiai) e os maus (D. L. VII, 116) na Stoa tardia. (Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters)