Início/princípio/origem (archê)
Archê no período pré-platônico: em seu significado fundamental, o conceito de archê (formas verbais correspondentes: areheinlarchesthai) indica o ponto em que algo começa ou do qual algo se origina (cf. Aristóteles, Metafísica 1013a ss.; Física 188a s.). Já na fase pré-platônica o termo archê também é empregado em todos os significados mais específicos encontrados em Platão: 1. coloquialmente como início temporal; 2. como conceito político ou militar para o exercício do poder ou domínio sobre os outros; 3. como termo da filosofia da natureza. Apenas na terceira esfera ocorre uma reflexão propriamente filosófica sobre o estado de coisas designado por archê. A tentativa de remeter a abundância de fenômenos a um menor número possível de causas define o pensamento grego desde o início — por exemplo, o caos na Teogonia de Hesíodo. Desse modo, a totalidade da realidade se deixava conceber como uma ordem coerente (kosmos). Na busca do princípio/ dos princípios, a filosofia pré-socrática continuou a se orientar cosmologicamente. Apesar da presença do fato, archê era usado aí como termo filosófico apenas raramente, e talvez pela primeira vez por Anaximandro (DK 12 A 9; cf. também Filolau DK 44 B 8). Em vez disso, fala-se de “formas” (morphai), “raízes” (rhizômata) ou “elementos” (stoicheia). O trabalho de explicação, que deve efetuar a remissão a um ou mais princípios, concernia de um lado à qualidade material da realidade, de outro às modificações/movimentos que conduziam a uma estrutura ordenada do cosmos. Muitos pré-socráticos acreditavam poder fazer isso pela remissão a princípios materiais, que eles, entretanto, dotam de uma faculdade divina (por exemplo, água em Tales, ar em Anaxímenes, fogo em Heráclito) ou de um movimento baseado no acaso (átomos em Demócrito). Além disso, outros pré-socráticos supunham, antes ou ao lado dos princípios materiais, princípios autônomos, pré-empíricos, formativos (para Anaximandro, o “ilimitado” (apeiron); para Empédocles, “amizade” (philia) e “conflito” (neikos)). Anaxágoras foi o que mais se aproximou da filosofia de Platão. Ele estabelecia clara distinção entre uma instância material indiferenciada e um intelecto divino (nus) que é móvel e, ao mesmo tempo, ordena com vistas a um fim estrutural. Ainda que nem sempre com nítida distinção das instâncias causais, para o pré-socratismo aspectos materiais, causais do movimento e teleológicos eram atuantes nos princípios. (SCHÄFER)