Empédocles

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Biblioteca Nacional da França


Empédocles nasceu em Agigento, uma das mais belas cidades da Grande Grécia, em 490 a.C. Deve ter conhecido o pitagorismo e o heraclitismo, muito ativos na Sicília. Deve igualmente ter aí encontrado Parmênides e Esquilo. A par das correntes filosóficas que Empédocles conheceu, importa destacar as grandes correntes místicas e em particular o culto de Diónisos. Este dera origem a um certo número de místicos errantes, que exorcizavam os doentes, falavam à maneira dos oráculos e redigiam Purificações (katharmoi). Estas tradições forneceram provavelmente a Empédocles elementos que lhe permitiram compor a sua própria personagem, pois se nos apresenta como taumaturgo e como profeta. Mago vivendo entre os mortais, dirige-se assim aos seus compatriotas, no início das Purificações:

…Eu caminho entre vós
como um deus imortal, não mais como um mortal,
Cumulado de honras por todos, como convém,
Coroado de fitas e coroas floridas.

Este Mago, possuído do deus, transmite aos homens a Mensagem que este lhe inspira, tem o poder de curar os que sofrem e ensinar a via da riqueza. O seu poema Da Natureza começa por esta invocação, que faz naturalmente pensar no começo do poema de Parmênides:

Mas vós, ó deuses, desviai da minha língua a loucura destes homens
E fazei brotar de meus lábios santificados uma nascente pura.
E tu, Musa com numerosos pretendentes, virgem de braços brancos,
Eu te invoco, e dá-me o saber que as divinas leis permitem
Entender às efêmeras criaturas,
Conduzindo um carro dócil vindo do reino da Piedade, (fgt. 3)

O Mago revela uma verdade vinda da divindade e da qual é apenas o intermediário (cf. fgt. 23). No entanto, convém não esquecer que tal tarefa é das mais difíceis, porque «não é possível trazer Deus ao alcance dos nossos olhos nem agarrá-lo com as mãos, meios pelos quais a mais larga via da persuasão entra no espírito dos homens» (fgt. 133). Além disso, Empédocles apresenta-se como «um vagabundo exilado dos deuses» (fgt. 115). Faz parte, também ele, do número dos condenados a errar durante anos e anos. Todavia, este exílio que o filósofo conhece foi constituído por reencarnações sucessivas e, no decurso das diferentes transmigrações, pôde adquirir um certo conhecimento de todo o ciclo dos seres. Porque Empédocles recorda-se dessas vidas anteriores: «Eu já fui um rapaz, uma rapariga, uma planta, um pássaro e um peixe mudo que salta por sobre o mar.» (fgt. 117) Mergulhou no coração dessa mistura de que nascem todas as coisas, incluso o próprio homem (fgt. 9). No decurso destas passagens, conseguiu assimilar o segredo das múltiplas forças que formam os elementos ou os destroem.

Por isso, Empédocles se reclamava de um poder sobrenatural, que lhe permitia dar ordens à própria morte. Não diz ele próprio:

Todos os remédios que existem para se defender da doença e da velhice
Tu os aprenderás, porque só para ti quero realizar tudo isso.
Tu amainarás o furor dos ventos infatigáveis que se precipitam sobre a terra
E que em trombas de água devastam os campos;
E, de novo, a teu desejo, trarás de volta a brisa benfazeja.
Após as sombrias chuvas criarás uma seca propícia
Para os homens e de novo, após a estiagem do verão, produzirás
As chuvas que alimentam as árvores e caem do céu;
Reconduzirás do Hades a alma de um homem já morto. (fgt. 111)

(Jean Brun, “PRÉ-SOCRÁTICOS”)