artios-perissos

É o número ímpar (perissos) que faz aparecer o “limite” (peras) compreendido como princípio de acabamento e de determinação, aí onde o número par (artios) desvela o princípio de indeterminação e de inacabamento do universo. O ímpar, considerado como “macho”, não pode ser dividido em duas partes iguais, logo se submeter ao par, número “fêmea”, posto que um número ímpar dividido por dois dá um “resto” (perissos) que não é um inteiro (1/2). Pode-se em revanche o decompôr em dois números iguais de um lado e de outro de uma unidade central: assim 3 = 1 + 1 + 1; 5 = 2 + 1 + 2, etc. No número ímpar, é sempre a unidade que predomina, o que vem a dizer que a divisão se limita à unidade para o ímpar, assim associado ao princípio de finitude identificado ao poder masculino, ao passo que a reprodução do par, poder feminino e indefinido, não está limitado pela unidade e se renova sem cessar: 4 = 2 + 2; 6 = 3 + 3, etc. O ímpar será em consequência associado à totalidade na medida onde, como nota Estobeu (Eclogae I,6), ele comporta sempre “começo, fim e meio”, a unidade cósmica sendo a mediadora entre os dois elementos, inicial e final, da paridade. Daí provém a dignidade da Tríade, que o pitagorismo legará a Platão, Aristóteles, Hegel ou Marx. Aristóteles dá a razão no tratado Do Céu: “O Todo e a totalidade das coisas são determinadas pelo número 3: fim, meio e começo formam o número característico do Todo, e seu número é a Tríade” (268a 11-13). Encontra-se aí uma antiga fórmula sagrada do orfismo presente em Platão nas Leis a respeito da divindade que tem “entre suas mãos o começo, o meio e o fim” (Leis IV).