sophon (Buzzi)

Excertos de Arcângelo Buzzi, Introdução ao Pensar, 1976, p. 7

Onde está a sabedoria para que o filósofo crie com ela esses laços de correspondência, de harmonia e amor? A sabedoria é o todo, é a realidade, são os entes em sua totalidade. Podemos traduzir sóphon como o todo dos entes. O todo dos entes, porém, é cheio de pensamento; daí sóphon também significar sabedoria.

Quando o filósofo está no todo como quem sabe ler a harmonia nele inserida, como quem sabe corresponder à unidade dos entes, possui a sabedoria, o sóphon. Para tanto o filósofo precisa perceber o um que tudo une, que tudo harmoniza. Esse um é a própria realidade, é sua identidade última presente e estranha ao pensamento.

O sóphon, o um, não é uma coisa, um objeto entre os demais. O um é o que possibilita cada objeto ser ele mesmo, é o que possibilita o agente acolher e viver os acontecimentos, por díspares que sejam, numa unidade de integração superior. O um não é objetivável. É o imponderável que dá ao pensamento a competência de ponderar o que acontece em síntese significativa. Por exemplo, Pedro nasce, vive em família, morre-lhe a mãe, o pai vai à guerra, estuda, ama, casa, procria, adoece, envelhece e aguarda a morte. O espírito de Pedro, nessa caminhada existencial, viveu em unidade superior os acontecimentos, alegres e tristes, sem se perder, sem parar em nenhum deles, como a melodia que não pára numa nota, mas a todas percorre, como a poesia que não se perde num verso, mas se constitui na síntese unitária de todos os versos.