Caeiro (Arete:67-68) – pathos

A eclosão do horizonte da situação humana (praxis) dá-se a partir da tematização das afectações (pathe) da lucidez humana (psyche) com vista à sua neutralização afectiva e à obtenção da liberdade que nos permita reagir-lhes, esboçando, dessa forma, um comportamento activo. Os limites patológicos são o sofrimento (lype) e o prazer (hedone). A libertação do horizonte patológico, e, portanto, do modo como por natureza (physei) ficamos dispostos, só é possível pelo esforço constante de tematizar o sentido do bem (agathon). O reluzir deste sentido corresponde à constituição de um sentido (logos) que nos permite perceber as tendências em que nos movemos e, se for caso disso, reagir-lhes não naturalmente mas de uma forma excelente. Por exemplo, seguindo o sofrimento e evitando o prazer.

O modo como naturalmente propendemos para sentir o efeito de cada situação por que passamos é patológico. A análise da situação humana (praxis) é a tematização da capacidade natural que temos de ser movidos por fenômenos patológicos. Ela passa, por conseguinte, pelo esforço tendencioso de pôr a descoberto as tendências naturais de fuga ao sofrimento e de perseguição do prazer no humano. No entanto, ela tem em vista a possibilidade de uma transformação desta condição factual e a cedência à forma excelente de passarmos por uma situação em que tivéssemos caído ou que tivéssemos criado. Só assim é possível ir numa direção que permita uma anulação da afectação patológica e uma transformação da natureza essencial (physis) da lucidez humana (psyche), Por forma a podermos de uma forma activa esboçar uma linha de ação ou um tipo de comportamento. Só nessa altura nos podemos libertar do modo como somos afectados pelo sofrimento e pelo prazer e ter a liberdade de escolher o modo como lhes podemos reagir. Essa transformação que permite a realização da possibilidade máxima da existência humana é dada pela realização da excelência (arete), através de uma abertura para o sentido que torna o humano apto (agathon).