diairesis

diaíresis: separação, divisão, distinção, discriminação

1. A divisão, um processo que não interessou Sócrates já que o ímpeto da sua investigação era dirigido a um único eidos (ver epagoge), torna-se um aspecto importante nos diálogos posteriores em que Platão volta a sua atenção para o problema da relação entre os eide. Expressa em termos de lógica aristotélica a diairesis faz parte do progresso do gênero para a espécie; mas como é evidente num passo chave do Parmênides, onde é posta a questão pela primeira vez (129d-e), Platão não a viu como um exercício conceptual. A procura dialética da qual a diairesis faz parte tem como objeto a explicação das realidades ontológicas que são abarcadas pela nossa reflexão (logismos).

2. A procura dos eide inter-relacionados começa com uma tentativa de abranger uma forma genérica (Fedro 265d); esta é «reunião» (synagoge). Segue-se-lhe a diairesis, uma separação dos vários eide encontrados no eidos genérico, descendo até à infima species (Soph. 253d-e). Platão poupa-se a pormenores quer na teoria quer na prática da synagoge e, enquanto o Sofista e o Político estão cheios de exemplos de diairesis, há relativamente pouca informação sobre a sua metodologia. Somos informados, contudo, que a divisão se vai realizar «de acordo com as naturais articulações» (Fedro 265e). O que estas são torna-se mais claro a partir do Político: são as diferenças (diaphorai) que separam uma espécie da outra na forma genérica (Pol. 262a-263b, 285b).

3. O método da divisão levanta alguns sérios problemas, tão sérios de fato que podiam muito bem abalar a confiança na existência dos eide (ver Phil. 15a-b). A descrição da relação dos sensíveis aos eide em termos de participação (methexis) sugere a subordinação das coisas aos eide, uma subordinação no centro da metafísica platônica. E embora Platão evite o termo methexis, preferindo o termo «combinação» ou «comunhão» (koinotiia; antes, no Fédon 100d, Platão tinha, ao que parece, pensado em usar koinonia para descrever a relação dos sensíveis com os eide) quando descreve a inter-relação dos eide (ver Soph. 251 d, e), a dificuldade recusa-se persistentemente a desaparecer. Não deve a combinação dos eide específicos sob o eidos genérico sugerir exatamente o mesmo princípio de subordinação entre os próprios eide? Devem as espécies constituir o gênero ou são derivadas dele? Platão obviamente não viu os eide deste modo (ver Soph. 251a-259d), como o próprio Aristóteles está disposto a admitir (ver Metafísica 1031a), mas pode ter sido pelo menos uma das razões por que Espeusipo, que pratica a diairesis, mas de uma maneira radical (ver Aristóteles, Anal. post. II, 97a e diaphora), negou a existência dos eide.

4. Aristóteles, contudo, está convencido da incompatibilidade dos eide subsistentes e indivisíveis e do processo da diairesis (Metafísica 1039a-b). A sua própria teoria da divisão é exposta in Anal. post. li, 96b-97b: deve dividir-se o gênero pelas diferenças (diaphorai) que pertencem à essência, deve continuar-se na ordem correta e, por fim, incluir tudo.

Com Epicteto a diairesis reaparece num contexto moral; ver proairesis. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]