Plano do Tratado, segundo Gwenaëlle Aubry
Excerto da Tradução do Tratado 53, dentro da magnífica iniciativa de Pierre Hadot publicada pelas Editions Cerf.
- Introdução (§1): a questão do “sujeito” [hypokeimenon]. Enunciado do plano do tratado.
- Primeira parte (§2-7, 6): a união da alma [psyche] e do corpo [soma] e a teoria das potências [dynamis]
- A (§2) Estudo da primeira hipótese: o sujeito das paixões é somente a alma
- B (§3) Estudo da segunda hipótese: a alma usando o corpo como um instrumento
- A crítica do instrumentalismo
- O problema da interação da alma e do corpo
- As espécies de mistura [krasis]. A alma não está totalmente misturada ao corpo.
- C (§4 e §5) Estudo da terceira hipótese
- (§4) O sujeito das paixões é a mistura da alma e do corpo
- (§5) Aporías concernentes ao sujeito das paixões
- O animal [zoon] e a alma
- O sujeito das paixões e a crítica do estoicismo
- O sujeito das paixões e a crítica do aristotelismo
- D (§6 e §7, 1-6) Fim do estudo da terceira hipótese e resolução das aporías
- Segunda parte (§7, 6 até §13): a questão do “Nós” [hemeis]
- A (§7, 6-23 e §8) Situação do “Nós”
- (§7, 6-23) O “Nós”e o animal.
- Multiplicidade do “Nós
- O processo da sensação
- As operações do “Nós”
- (§8) O “Nós” e as realidades superiores
- O “Nós” e o Intelecto [noûs]
- O “Nós” e o Uno [hen]
- O “Nós” e a Alma do Mundo [psyche kosmou]
- (§7, 6-23) O “Nós”e o animal.
- B (§9 a §12) O sujeito da ética [ethos]
- (§9) A impecabilidade da alma e a responsabilidade do “Nós”
- A impecabilidade da alma superior [hole psyche]
- O erro e o mal [kakia]
- A impecabilidade do Intelecto e seu contato com o “Nós”
- Atualização e reminiscência [anamnesis]
- (§10) A dualidade do “Nós”e a purificação [katharsis]
- (§11) A conversão [strophe] como tomada de consciência
- Primeiro tipo de inconsciência: a infância
- Tomada de consciência e atualização
- Segundo tipo de inconsciência: as almas faltosas
- (§12) Retorno sobre o problema da impecabilidade da alma separada.
- (§9) A impecabilidade da alma e a responsabilidade do “Nós”
- C (§13) O sujeito da investigação filosófica
- Resposta à questão reflexiva
- Movimento da alma e dinamismo do “Nós”
- A (§7, 6-23 e §8) Situação do “Nós”
Segundo Gwenaëlle Aubry (Traité 53), o Tratado 53 das Enéadas (Enéada I, 1) parece ser composto de duas partes distintas, das quais é difícil perceber, primeiro, o que as une. Esta dualidade se reflete no título dado por Porfírio ao tratado: “O que é o animal [zoon]? O que é o homem [anthropos]?”. Onde o grego “zoon” pode ser traduzido por “vivente”, pois não se aplica exclusivamente às espécies animais, incluindo humanos e deuses, embora excluindo plantas.
Se a segunda parte é realmente governada pela problemática do Primeiro Alcibíades (a que, no entanto, como veremos, Plotino sujeita a deslocamentos decisivos), a primeira é pela do De anima de Aristóteles. Ao fazê-lo, obedece ao processo, corrente em Plotino, de “pesquisa preliminar”: a questão platônica da essência do homem (que Plotino reformula como sendo a da natureza do ego ou, mais precisamente, do “nós” , de “hemeis”), só pode ser feita quando a questão aristotélica da união da alma [psyche] e do corpo [soma] for resolvida. Antes de decidir se o homem pode, como Platão deseja, ser identificado com a alma, ao invés do corpo, ou com a mistura [krasis] de alma e corpo, ainda é necessário determinar se a alma pode permanecer no estado separado, o que implica distinguir entre os atributos que lhe são próprios e aqueles que compartilha com o corpo.