Enéada I, 6, 4: Afetos ligados ao encontro do belo

Tradução para o português de Américo Sommerman
Retirado de “Do Belo, tratado de Plotino

4. Quanto às belezas mais elevadas, que não podem ser percebidas pelos sentidos, mas que são vistas pela alma e a respeito das quais ela se pronuncia sem o auxílio dos órgãos dos sentidos, para contemplá-las temos nos elevar ainda mais, abandonando os sentidos em baixo. Assim como aqueles que nasceram cegos não podem falar a respeito das belezas sensíveis, assim também não é possível se falar a respeito da beleza das condutas, das ciências e de outras coisas semelhantes sem ter antes se interessado por essas questões, nem é possível falar a respeito do esplendor da virtude sem se ter antes contemplado a bela face da justiça e da temperança, “cuja beleza é maior que a da aurora e a do crepúsculo” .

Tais belezas só podem ser vistas por aqueles que veem com os olhos da alma. E quando as veem, experimentam um deleite, uma alegria e um assombro bem maiores do que os experimentados diante das belezas precedentes, pois nesse caso contemplam o reino da verdadeira beleza.

Eis o que se experimenta quando se entra em contato com a beleza: o maravilhamento, um súbito deleite, o desejo, o amor e uma alegre excitação. É possível sentir isso ante as belezas invisíveis. E as almas realmente o sentem, praticamente todas as almas, mas especialmente as almas que as amam. O mesmo ocorre no que diz respeito à beleza dos corpos: todos a veem, mas nem todos sentem o mesmo impacto; os que mais o sentem são os que chamamos de amorosos.