Enéada I, 6, 7: A visão bem-aventurada: união da alma ao belo e ao bem

Tradução para o português de Américo Sommerman
Retirado de “Do Belo, tratado de Plotino

7. Precisamos então subir de novo em direção ao Bem, para o qual tende o desejo de todas as almas. Quem quer que o tenha visto sabe o que quero dizer quando digo que Ele é belo. Como Bem, é desejado e o desejo tende para Ele, mas só o alcançam aqueles que se elevam à região superior e se despojam das vestes que colocaram em sua descida — como aqueles que sobem em direção aos santuários dos templos devem se purificar, deixar de lado suas antigas vestes e subir sem elas —, até que, tendo abandonado nessa subida tudo o que é estrangeiro a Deus, vejam, sozinhos, em seu isolamento, simplicidade e pureza o Ser do qual tudo depende, para o qual todos os olhares se dirigem, do qual provêm o ser, a vida e o pensamento, pois ele é a causa da vida, da inteligência e do ser.

Quem quer que o veja, que a amor senti! Que desejo de se unir a Ele! Que estupefação plena de deleite! Quem ainda não o viu pode desejá-lo com um bem, mas quem o vê ama-o e reverencia-o como a própria Beleza, enche-se de maravilhamento e deleite, é assaltado por um benéfico estupor, ama-o com um amor verdadeiro e desejos ardentes, ri de todos os outros amores e despreza as coisas que antes achava belas.

Se aqueles que contemplaram a manifestação dos deuses ou dos espíritos celestes [daimons] já deixam de se deleitar com as formas materiais, o que podemos imaginar que experimentariam se vissem a Beleza absoluta, em toda a sua pureza? Não aquela que é composta de carne ou de corpo, mas aquela que, sendo pura, não está na Terra nem no Céu. Todas as outras belezas são adquiridas, misturadas e não primordiais, e provêm dela. Quem quer que visse isso que partilha a beleza com todas as coisas – mas que a partilha permanecendo em si mesmo e nada recebendo em si – e permanecesse nessa contemplação desfrutando dele, de que outra beleza necessitaria? Pois isso é a verdadeira e primeira beleza, que embeleza os seus amantes e os torna dignos de serem amados.

Começa então para a alma a maior de todas as lutas: emprega todo o seu esforço para não ser privada da melhor das visões. Quem a vence é conduzido ao êxtase da contemplação da mais bela das visões, mas quem não a vence é o verdadeiro infeliz. Pois o verdadeiro infeliz não é quem pode ver belas cores ou belos corpos, tampouco quem não tem o poder, as magistraturas ou a realeza; o infeliz é quem não encontrou o belo, e apenas a ele. Para obtê-lo é preciso renunciar aos reinos e à dominação da terra, do mar e do céu, uma vez que só abandonando e desprezando essas coisas é possível voltar-se para ele e vê-lo.