Traduzido da versão francesa de Jean-François Pradeau
Se começamos por nos entreter, antes de nos pôr a falar seriamente, dizendo que todas as coisas aspiram à contemplação, que esta é o fim para o qual todas voltam seu olhar – não somente os seres vivos racionais, mas também aqueles que não são racionais, a natureza que está nas plantas e a terra que as engendra – e que todas aí chegam tanto quanto sua natureza permite, mas que algumas contemplam e conseguem ao final que delas é de uma maneira e de outras de uma outra maneira, algumas verdadeiramente, outras em não recebendo senão uma imitação ou uma imagem deste fim, se encontraria alguém para sustentar a bizarrice de nossa proposição? Mas posto que é a nós mesmos que a questão é dirigida, não há nenhum risco em nos entretermos de nossas próprias proposições.
E então, nós também que nos entretemos, não é verdade que estamos em vias de contemplar? Sim, é o que fazemos e é o que fazem todos aqueles que se entretêm, ou pelo menos é isto que aspiram quando se entretêm. E é mesmo provável, que seja uma criança ou um homem que se entretém ou que é sério, que é com vistas à contemplação que se entretém ou que é sério. E toda ação comporta um esforço para a contemplação: a ação contrita conduz bastante à contemplação para o que é exterior, e a ação que se diz voluntária aí conduz menos; portanto, assim como a precedente, ela nasce de um desejo de contemplação. Mas trataremos disso mais tarde. De imediato, falemos da terra ela mesma, das árvores e das plantas em geral, e nos demandemos: em que consiste sua contemplação? Que relação estabeleceremos entre o que produz e engendra a terra e sua atividade de contemplação? E como a natureza, da qual se diz que é desprovida de representação e de razão, pode possuir nela mesma a contemplação, e produzir o que ela produz, pela contemplação que ela não possui? Sim, como?