Enéada VI,8,3 — A verdadeira liberdade situa-se no intelecto

Capítulo 3: Prosseguimento da investigação psicológica e passagem ao Intelecto: é lá que deve se situar a verdadeira liberdade.
1-20: O que depende de nós pode ser ligado à opinião? ou à representação?
21-26: A livre disposição de si deve primeiramente ser reportada ao Intelecto

3. Eis porque é preciso examinar estas questões. Pois em as tratando já nos aproximamos de um discurso sobre os deuses. Em resumo, atribuímos o que depende de nós à vontade, e situada esta última na razão, depois na razão direita; e talvez seja necessário adicionar ao qualificativo «direita» que a razão pertence à ciência: pois se alguém formou uma opinião direita e agiu em consequência, não se pode afirmar sem hesitação que possua a livre disposição de si, se não sabia porque sua opinião era direita e se é por azar ou por uma representação qualquer que foi levado a fazer o que devia. De fato, se se sustenta que a representação não depende de nós, aqueles que agem sob sua influência, como elevar ao nível daqueles que dispõem livremente deles mesmos? A representação da qual falamos é aquela que se designa assim no sentido estrito, quer dizer a representação que é desperta pelas afecções do corpo. A falta de alimento e de bebida modela uma certa maneira das representações, como o faz também o estado oposto, a repleção, e a abundância de semente suscita representações diferentes: assim as representações variam segundo cada qualidade dos humores do corpo. Aqueles que agem sob a influência de tais representações, não os elevaremos ao nível do princípio que a livre disposição de si. Para a mesma razão, acordaremos aos maus que agem frequentemente sob a influência destas representações nem a capacidade de realizar coisas que deles dependem nem a ação completada voluntariamente, mas em revanche, atribuiremos a livre disposição de si ao indivíduo que, devido aos atos do intelecto, é livre das afecções de seu corpo. Em fazendo remontar o que depende de nós ao mais belo dos princípios, o ato do intelecto, concordaremos que as premissas que dele decorrem são realmente livres e que os desejos despertados pelo ato de pensamento não são involuntários, e afirmaremos que a livre disposição de si está presente nos deuses que vivem desta maneira (quer dizer guiados pelo intelecto e o desejo que se conforma ao intelecto).