Enéada VI,8,5 — Que relação estabelecer entre virtude e liberdade?

Capítulo 5: Que relação estabelecer entre virtude e liberdade?
1-27: Retorno ao nível da alma. A virtude que governa a ação pode ser livre?
27-37: Consideração da virtude “nela mesma”: ela é “como um outro Intelecto

5. — Por conseguinte, deve-se situar a livre disposição de si e a capacidade de depender de si no único Intelecto que pensa, quer dizer no intelecto puro, ou melhor igualmente na alma cujo ato é conforme ao intelecto e cuja ação é conforme à virtude? Desde então, se nos acordamos estas capacidades à alma engajada na ação, a princípio, não é preciso sem dúvida acordá-lo à realização da ação. Pois nós não somos mestres do azar. Por outro lado, se nós as acordamos à ação realizada convenientemente e ao fato de realizar todas as coisas por si mesmo, talvez então é a justo título que assim a gente se exprime. Mas isso, em qual sentido é que isso depende de nós? Por exemplo, tomemos a hipótese onde nós somos corajosos porque é a guerra. De pronto, demando como um tal ato depende de nós, dado que se a guerra não tivesse lugar, não poderíamos realizá-lo. A questão se coloca de maneira similar por todas as outras ações realizadas segundo a virtude: a virtude se vê sempre submetida à necessidade de realizar tal ou tal coisa em função das circunstâncias. De fato, se a gente dá a escolha à virtude ela mesma: deseja ela que hajam guerras a fim de que ela possa fazer prova de sua coragem? Que haja injustiça a fim de que ela possa determinar o que é justo e que ela restabeleça a ordem? E da pobreza a fim de que ela faça demonstração de sua generosidade? Ou bem prefere ela permanecer em repouso porque tudo vai bem? Ela preferirá o repouso à ação e que nada requeira dela seu socorro. Assim Hipócrates prefere que ninguém tenha necessidade de sua arte. Se portanto a virtude, quando ela exerce seu ato no domínio da ação, é constrangida a dar socorro ao que tem dela necessidade, como possuiria ela pura e simplesmente a capacidade de depender dela mesma? Por conseguinte, afirmaremos que as ações são submetidas à necessidade, mas que a vontade que é anterior às ações e a razão são o que escapa à constrição da necessidade? Mas se assim é, em situando a livre disposição de si e este que depende da virtude puramente nisto que é anterior à ação, nós os situaremos fora da ação.

— Que é a virtude considerada como estado e como disposição? Não é verdade que quando a alma está mal disposta, a virtude vem para estabelecer ordem em introduzindo medida nas afecções e nos desejos? E qual sentido dizemos então que depende de nós ser vons, e que «a virtude não tem mestre»?

— No sentido certamente em que a tínhamos desejado e escolhido. Ou bem porque quando a virtude sobrevém em nós, ela nos busca a liberdade e a capacidade de depender de nós mesmos, e ela não nos deixa mais servis ao que éramos anteriormente escravos. Se portanto a virtude é como uma outro intelecto, e que ela é um estado que faz que, de uma certa maneira a alma se intelectualiza, então, por conseguinte, o que depende de nós não reside na ação, mas no intelecto em repouso livre de toda ação.