Capítulo 10: A visão do Uno é além do conhecimento intelectual.
1-9. A alma deve ir além da razão para alcançar a visão do uno.
9-21. A visão do Uno é uma verdadeira união e uma “identificação” com ele.
10. — Mas então, como se dá que não permaneçamos lá?
— É porque não se está ainda inteiramente fora daqui. Mas haverá um momento onde a contemplação será contínua para aquele que não estará mais impedido por qualquer obstáculo corporal. A princípio, não é a faculdade que viu que está impedida, mas esta outra faculdade que, quando aquela que viu cessa de ver, permanece ativa na ciência que se exerce nas demonstrações, nas provas e no raciocínio conduzido pela alma. Mas o ato de ver e a faculdade que vê não são mais a razão, mas são superiores à razão, eles se encontram antes da razão, e além dela, como está também isto que é visto. E, posto que aquele que vê se vê então ele mesmo, no momento que vê, ele se verá tal qual é, ou melhor, ele será unido a ele mesmo tal qual é, e se perceberá tal qual é, tornado simples. Mas talvez não é preciso dizer «ele se verá», mas de preferência «ele é visto», se todavia é preciso dizer que há duas coisas, isto que vê e isto que é visto, e não que estas duas coisas não senão uma, o que seria uma proposição audaciosa. Pois, então, no momento que ele vê, aquele que vê não vê, não distingue e não se representa duas coisas; mas, sendo por assim dizer convertido em outro, não é mais ele mesmo, nem para ele mesmo, ele pertence ao isto que está lá, e, sendo convertido em uno, pertence ao Uno, como se tivesse feito coincidir o centro com o centro. Pois mesmo aqui em baixo, quando dois centros coincidem, eles são uno e não se tornam dois senão se ele se separam. Eis porque falamos agora como de um outro; e eis porque é tão difícil falar da contemplação: como afirmar, com efeito, que é outro, quando se o contemplou, não se o viu como sendo outro, mas como se fazendo uno consigo mesmo?