15. Para o epicurista o noûs opera um pouco à maneira dos sentidos. Pode também perceber diretamente os eidola dados pelos corpos mas que não são, neste caso, apreendidos pelos sentidos. É o caso, por exemplo, das misturas acidentais dos eidola que dão origem a que se imaginem centauros e quimeras (Lucrécio IV, 129), visões tidas em sonhos (IV, 749-777), e os eidola dos deuses (IV, 148-149; Cícero, De nat. deor. I, 49). Estas operações são afins do pensamento dos conceitos indivisíveis do noûs aristotélico (De anima III, 430a); há também intelecção componendo et dividendo, i. e., que avalia e julga os dados da sensação. As imagens (phantasiai) em que os eidola se encontram agrupados são passadas para a dianoia ou nons onde se acumulam em «preconceitos» gerais (prolepseis). Estes, por sua vez, servem de modelo de comparação para os juízos (hypolepseis) acerca das coisas sensíveis individuais (D. L. X, 33). Esta é a zona de opinião em que entra o erro (ver doxa 7; o critério epicurista da verdade e do erro é discutido na rubrica energeia). Finalmente o espírito é também capaz de entrar no domínio dos imperceptíveis (adela), i. e., para realizar um processo discursivo de raciocínio (logismas, a ratio de Lucrécio) que lida com entidades não imediatamente perceptíveis aos sentidos, classe que, evidentemente, inclui os próprios atoina (ver D. L. X, 32).