Marcílio Ficino – Sobre el furor divino y otros textos
Antropos Editorial del Hombre, Barcelona, España, 1993, 105 p.
Textos y Documentos – Clásico del Pensamiento y de las Ciencias
Colección dirigida por Antonio Alegre Gorri – número 17
Título original: De divino furore
Edición bilingüe
Selección de textos, introducción y notas de Pedro Azara.
Traducción de Juan Maluquer y Jaime Sainz
ISBN 84-7658-382-6
Tradução para o português das páginas 30 até 47, gentilmente feita por nosso amigo Antonio Carneiro
EPÍTOME AO ION DE PLATÃO, ou “DO FUROR POÉTICO”
1,
dedicado ao magnânimo Lourenço de Médicis2
Tratado dedicado à Lourenço de Médicis (1464-1466), In omnia platonis opera, em Opera Omnia, II, páginas 1281 -1284.
Nosso Platão, ótimo Lourenço, definiu o furor em Fedro3 alienação da mente . Assinalou também que gera dois tipos de alienação. Uma pelas doenças humanas, outra proveniente de Deus4. A primeira é insanidade, a segunda furor divino. A insanidade precipita o homem para um nível inferior da espécie humana, e o transforma em um homem bruto. O furor divino erige o homem sobre sua natureza, e a caminho de Deus. O furor divino é também, a iluminação da alma, pela qual Deus se dirige à alma descida às esferas para elevá-la das inferiores para as superiores.5 A descida da alma ao corpo a partir do próprio “um”, princípio de todas as coisas, se efetua por quatro graus, pela mente, razão, opinião e natureza.6 Pois, ao existir em toda ordem seis graus, contendo do superior ao inferior, e ser os quatro anteriormente citados os que se encontram no meio em seu caminho em direção ao corpo, é necessário que qualquer coisa que desça do primeiro grau ao último, caia pelos quatro graus médios. O “um-só” é o termo de todas as coisas e medida da infinidade e da pluralidade. A mente é, com efeito , plural, mas estável e eterna.7 A razão, plural móvel mas finita.8 A opinião plural, móvel e infinita, as unida por substância e pontos, de igual modo que a natureza, salvo que esta se difunde através do corpo. O corpo, por sua vez, é uma pluralidade infinita sujeita ao movimento, com uma substância dividida em pontos e espaços.9 Tudo isso contempla nossa alma e através disto desce e por sua vez ascende.10 Quando sai do “um-só” que é o rincípio de todas as coisas, a alma obtém certa unidade que liga toda sua essência suas forças e suas ações. Unidade a partir da que e em direção a que se contem tudo aquilo que forma parte da alma de modo semelhante às linhas de um círculo a respeito de seu centro.11 Mas não somente une mutuamente as partes da alma à alma inteira, como também une a alma ao “um-só” que é causa de todas as coisa.
Quando a alma depende da mente divina contempla firmemente mediante a mente as ideias de todas as coisas. Quando contempla à si mesma, reúne os estados universais das coisas, e com razão discorre as conclusões a partir dos princípios. Quando observa o corpo, concebe com a opinião as formas particulares dos entes móveis e os recorre.12 Quando aborda a matéria, se serve da natureza como de um instrumento, com o que une a matéria, a move e a forma.13 De onde surgem as oco e excrescências e seus contrários. Observa pois, que do “um” que se encontra mais além da eternidade, a alma se desliza em direção à eterna pluralidade14; da eternidade o faz rumo ao tempo, e do tempo, para o espaço e a matéria. Por esta razão, do mesmo modo que desce através de quatro graus, é necessário que ascenda pelos mesmos. Mas o furor divino, se situa no superior como indica sua própria definição. Existem, portanto, quatro tipos de furores divinos: o primeiro, o furor poético, o outro de mistérios15, o terceiro o vaticínio, o quarto afeição de amor16. A poesia é das Musas, os mistérios17 de Dionísio, o vaticínio de Apolo, o amor à Vênus.18 O espírito, por certo, não pode retornar ao “um”, a não ser que ele mesmo se converta no “um”. Estre, tendo executado muitas mudanças, desceu ao corpo, distribuindo-se em várias operações e atendendo à cada uma. Por isso suas partes superiores permanecem quase adormecidas e as inferiores dominam as restantes. Umas são afetadas pelo corpo e as outras por certa pertubação. Em resumo se constata que o espírito está repleto de discórdia e de falta de ordem. Assim pois,é necessário em primeiro lugar, que o furor poético mediante os tons das Musas suscite tudo aquilo que jaz sonolento, e que através da suavidade harmônica acalme aquilo que foi perturbado, e que finalmente, mediante o consenso das diversas partes, expulse a dissonância e tempere as diversas facetas do espírito. E ainda assim isto não é suficiente, já que certamente, todavia, permanece a pluralidade do espírito. Segue-lhe a arrebatamento mística que com sacrifícios e expiações e com o culto divino, dirige a atenção de todas as partes do espírito rumo à mente, com a que é venerada a divindade. Daí que, ao conduzir todas suas partes somente para a mente, o espírito passa certo modo da pluralidade para a unidade. É necessário que a terceira classe de furor se dirija à mente em direção à própria unidade da alma. Por causa disso Apolo realizou pelo vaticínio. Pois, quando a alma surgiu sobre a mente atrás da unidade, pressagiou o futuro. A alma com Deus em “um” é fato, o “um” na água está subjacente precisamente na essência da alma, só resta pois que de imediato a alma se converta em “um” que é “supra-essência”. Por causa disso Vênus Celeste19 realiza pelo amor, isto é, desejo da divina beleza que satisfaz o ardor das pessoas de bem.
Resumindo, o primeiro furor tempera tudo aquilo que se encontra desleixado e dissonante no corpo. O segundo faz da pluralidade das partes já temperadas um todo. O terceiro conduz este único todo mais além de suas partes, enquanto que o quarto o dirige rumo ao “um” que se acha acima da essência e do todo. Usando um símil o primeiro distingue o bom cavalo, isto é, a razão e a opinião, do mau cavalo, quer dizer, da ilusão confusa e da natureza. O segundo somente o mal cavalo do bom e este do bom cocheiro, quer dizer, da mente. O terceiro conduz ao cocheiro em direção à sua cabeça, isto é, o dirige rumo à unidade da mente. Finalmente, volta à cabeça do cocheiro para o princípio de todas as coisas, aonde o cocheiro é bem-aventurado, e na estrebaria, isto é, param os cavalos diante da divina beleza, e os agasalha com ambrosia e néctar, quer dizer com a visão da beleza e com a alegria que esta visão produz. Estes são as quatro funções do furor sobre as que sucessivamente trata Platão em Fedro.20 No que se refere ao amor, fala mais extensamente no Banquete21 , enquanto que o primeiro, isto é, o poético é abordado propriamente no presente diálogo, intitulado Ion22, não obstante, define Fedro o furor poético como a possessão das almas pelas Musas, possessão que tendo se apoderado da alma delicada e insuperável, a desperta e a aguilhoa através de cânticos e da poesia para instruir o gênero humano.23 Por possessão entendemos o rapto da alma e seu giro rumo a contemplação dos numes24 das Musas. Por alma delicada se designa aquela que é dúctil e modelável para as Musas, já que a alma não apresenta esta idoneidade, não será possuída. quando se diz que a alma é insuperável, é porque, esta, uma vez tomada, vence tudo e pelo contrário não é manchada nem vencida por nada que seja inferior. Dito furor desperta o corpo do sono e lhe impõe a vigília da mente25, retira-o das trevas da ignorância e o leva rumo à luz26, lhe subtrai da morte e o encaminha para a vida, do esquecimento leteu27 lhe reclama para que recorde o divino e por último o estimula, o agulha, e inflama para que se expresse mediante versos tudo aquilo que contempla e pressente.
Concluída esta definição, acrescenta que aquele que sem a intervenção das Musas acede aos limites da poesia, tanto ele como sua obra carecem de valor. Sua obra é de tal valia que não pode ter êxito se não for com o máximo favor da divindade. Esta é a mesma temática de página 602. Neste diálogo Platão formula de onde procede este furor e como se desenvolve. Não obstante, conta no livro quarto das Leis que a divindade, a fortuna e a arte regem todas as facetas humanas, a qual provoca que a poesia pode ser ora um dom da divindade, do acaso, ora obra de arte.28 Sócrates junto com página 602 o rapsodo trata de vislumbrar qual das antes citadas é a mais verossímil. Designamos como rapsodo aquele homem que recita, interpreta e canta poemas. Ion cantava a obra de Homero e interpretava seus versos, dedilhando a lira diante do público. Estava tão versado neste autor que não recitava nenhum outro poeta que não fosse Homero, ainda que se referissem ao mesmo tema que ele. Cantava pois com celeridade tudo o que concernia à Homero e é a partir daqui de onde se tece o argumento.29 É preciso elucidar se Ion recitava a obra de Homero por acaso, por arte ou por inspiração divina. Não era por acaso, uma vez que se assim ocorresse não poderia interpretar todas suas partes, mas sim algumas poucas e ainda assim sem ordem nem continuidade. Não era por arte, já que aquele que possui uma arte de forma íntegra pode julgar qualquer aspecto que faça referência à esta. O s poemas de Hesíodo e de outros poetas estão sujeitos ao mesmo afã poético que os de Homero, sobretudo nas partes que apresentam uma temática parecida. No entanto, Ion somente aprendeu aquelas contidas em Homero. Por essa razão concluímos que Ion não recitava Homero com arte.30 Só restou por inspiração divina. A consequência da qual fica claro que Ion como intérprete do poeta, e outros muito dotados também de modo similar, interpretavam a poesia alheia com instinto divino. De onde se deduz que se não basta o engenho para aprender poesia já transmitida, muito menos bastará para sua criação. Por isso nem Homero nem qualquer outro poeta verdadeiro pôde produzir sua poesia sem a inspiração celeste. Sócrates demonstrou este acerto por diversos meios.
Primeiramente, os poetas referem em sua obra todas as artes e todas as ciências, mas é impossível que as tenham aprendido com a perseverança humana, por ser já muito difícil o conhecimento de uma só. Assim pois se manifestam não por arte humana mas sim por causa de certa infusão divina, posto que a maior parte dos poetas, quando são remetidos à ocorrência do furor, já não compreendem aquilo que escreveram, ainda que enquanto durava o furor houvessem tratado cada disciplina de forma correta. Por sua vez, cada uma destas seria reconhecida sem nenhuma dificuldade por aquele que fosse versado em uma disciplina ou outra.31 Ainda mais, com frequência observamos que um homem rude ou inepto se converte repentinamente em um grande poeta e canta alguma composição divina e magnífica. Certamente, conseguir a grandeza em um instante não é próprio do engenho humano, mas sim da inspiração divina. Nela se manifesta claramente a divindade já que infundiu esta inteligência por sua vontade. Uma prova de que isto é assim, é que frequentemente se apodera de seres inadaptados de preferência nos que possuem maneiras urbanas, e de homens pouco lúcidos, em detrimento dos judiciosos. Isto porque se dirigisse suas forças para homens hábeis e judiciosos, pareceria que a obra poética se produziu por sutileza e industriosidade humanas.32 A poesia, não ocorrendo da fortuna ou da arte, deve ser atribuída à divindade e às Musas. A divindade mencionada, significa Apolo, e as Musas, as almas das esferas do mundo. Júpiter certamente é a mente da divindade33, pela qual sucede Apolo, mente da alma do mundo e alma do mundo todo, do qual as almas das oito esferas34 celestes que se convoca as nove Musas35) , porque se movem no céu em harmonia, geraram o canto melodioso da Música36 que se distribui em nove sons, sendo oito os tons das esferas, e em total sinfonia, as nove Sereias cantantes à divindade se revelam.37 Eis porque Apolo se deduz de Júpiter e as Musas de Apolo, isto é, mente da alma do mundo, proclamado pelo coro das Musas, porque assim como a mente é iluminada por Júpiter, também ilumina as almas das esferas do mundo.38 Estes são os graus por onde desce o furor: Júpiter arrebata Apolo. Apolo ilumina as Musas.39 As Musas excitam e agitam suavemente as almas dos poetas que não podem subir. Os poetas inspirados inspiram por sua vez os intérpretes. Os intérpretes impressionam os ouvintes.40
Não obstante, as almas são possuídas por diferentes Musas, uma vez que as almas dependem de diversas esferas e diversos planetas como narrado em Timeu.41 Calíope42 é a Musa da voz, pelo menos de todas as vozes das esferas. Urania, fiel estrela do céu, assim dita por sua dignidade. Polymnia da Saturno, dedicada à Saturno por causa que guarda a memória das coisas antigas e mostra um dilema seco e gélido. Terpsichore e Júpiter, salutar ao coro dos homens. Clio e Marte, por causa da cobiça de ganhar a glória. Melpome e Sol, porque é a temperança do mundo Erato e Vênus pelo amor.43 Euterpe e Mercúrio pelo honesto prazer nos assuntos graves. Talia44 e Lua pelo viço mostrado no humor e nas vicissitudes. Apolo é a alma, sua lira o corpo do sol, o quarteto de cordas, seus quatro movimentos, anual, mensal, diurno e oblíquo45, quatro vozes46 das Neates e hypateas.47
Como assinala acertadamente Chastel (Marsile Ficin et l’art, Genève et Lille, E.Droz et R. Girard, 1954, Travaux d’humanisme et Renaissance, 14, O “Epítome ao Ion” não tem a mesma importância que o “Ion” platônico para a compreensão da teoria do furor na arte, e por outro lado, é um texto menos profundo e esclarecedor que De Divino Furore, devido à mistura heterogênea de análises tiradas de diversos diálogos de Platão. No entanto, teve grande influência na poética maneirista, francesa sobretudo(vide os seguintes tratados de poética maneirista do grupo La Pléiade: T. Sebillet, Art Poétique françois (ed. crítica e introd. Felix Gaiffe), Paris, E. Cornély et Cie, 1910; J. Vauquelin de la Fresnaye, L’Art Poétique, Paris, Librarie Poulet-Malassis, 1862; J. Pelletier du Man, L’Art Poétique (ed. introd. e comentários de A. Boulanger), Paris, Les Belles Lettres, 1930), porque é um bom resumo das análises ficinianas sobre o furor desenvolvidas em outros escritos. Contem os caps. 13 e 14 de De Amore de M. Ficino ( que por sua vez eram comentários ao mito do carro alado do Fedro, à luz da interpretação plotiniana de Parmênides) antes de oferecer um comentário exclusivamente dedicado ao Ion. ↩
Sobre as, às vezes, difíceis relações entre Lourenço, o Magnífico, e seu tutor Ficino, vide R. Marcel, “Achademie Princeps”, Marcile Ficin, Paris, Les Belles Lettres, 1958, ( Les Classiques de l’Humanisme; collection publiée par l’Association Guillaume Budé), (***, II, 3), páginas 388 e seguintes. ↩
Platão, Fedro, 265 a. Este início repete o do De Amore, VII, 3. ↩
Até nova indicação (nota 15), Ficino repete De Amore, VII, 13. ↩
Como sugere M. J. B. Allen, The Platonism of Marsilio Ficino, pag.156, Ficino realiza uma leitura do Fedro à luz das Enéadas de Plotino ( III, 4,1; V, 2,2) e de Parmênides platônico. Vide igualmente M. J. B. Allen, “Ficino’s theory of the five substances and the Neoplatonists’ Parmenides”, Journal of Medieval and Renaissance Studies, 12, 1 (1982), 19-44. Sobre o papel das quatro hipóstases plotinianas em Ficino, vide P. O. Kristeller, The Philosophy of Marsilio Ficino”, pag. 377. ↩
M.Ficino, VI, 15. segue muito de perto à Pseudo-Dionísio, Os Nomes Divinos, IX, 2. ↩
M.Ficino, In Parmenides Commentaria, XLIX, em Op. Omn., II, página 1.164. Sobre a leitura ficiniana do Parmênides platônico, vide R. Klibansky, “Plato’s Parmenides in the Middle Ages and the Renaissance”, Medieval and Renaissance Studies, 1 (1943), 312-325. ↩
Comentário quase idêntico em M. Ficino, Teologia Platonica, I, 2, vide ibidem , VI, 8. Ficino se inspira em Plotino, Enéadas, IV, 7, 2-8, leitura por sua vez de Platão, Timeu, 33. ↩
M. Ficino, Teologia Platonica, III, 2. ↩
Possivelmente H.Trimegisto, Pimandro, X, 22. O próprio Ficino atribui explicitamente esta imagem à Hermes em M.Ficino, Di Dio et anima ( Suppl. Fic., II, págs. 138-139, sobre a dita atribuição, vide M.Ficino, Teologia Platonica (ed. de R. Marcel), III, (pag. 191, n 1). Uma imagem semelhante em M.Ficino, De Amore, II, 3 e Teologia Platonica, XVIII,3 :”(Deus) é a circunferência do Universo”. Vide Pseudo-Dionísio, Os Nomes Divinos, IV,9. ↩
M.Ficino, Teologia Platonica, I, 3. Inspirado em Plotino, Enéadas, II, 4, 11. ↩
M.Ficino, De Amore, IV, 15. Vide também M. Ficino, In Parmenides Commentaria. segue a Platão, Parmenide, 152 b. ↩
NT: mysterialis no original em latim, na tradução espanhola “místico”. ↩
NT: amatorius affectus no original em latim, na tradução espanhola “amatório”. ↩
NT: mysterium no original em latim. Em português significa tanto “mistérios” quanto “cerimônias secretas em honra de uma divindade”, na tradução espanhola “mística”. ↩
O parágrafo “Primus itaque (…) Io inscribitur” está transcrito em Michel J.B. Allen, Marsilio Ficino ande the Phaedran Chariotur, Berkeley/ Los Angeles/ Londres, University of California Press, 1981, pag. 250, nota 106. Ficino se repete a partir deste: De Amore, IV, 14. ↩
Sobre a Vênus Celeste: M. Ficino, ibidem, II, 7. Inspira-se em Plotino, Enéadas, III, 5, 15, quem se havia documentado em Platão, o Banquete, 180 d-e. Uma boa introdução ao tema das duas Vênus em Giuseppe Saitta, Marsilio Ficino e la Filosofia dell’Umanismo, Bolonia, Fiammenghi & Nanni, 1954, pag. 214 (Studi di Filosofia e di Storia della Filosofia, I), e sobretudo em E.Wind, Los misterios paganos del renacimiento, Barcelona, Barral, 1972 (***, II, 3, 5), cap. VII. ↩
NT: numina no original em latim (orig.: numen, numinis). Significa tanto “poder divino, vontade divina” quanto “divindade, deusa”, na tradução espanhola “númenes” em português “nume” significa entre outros: espírito sobrenatural. ↩
Pseudo-Dionísio, Os Nomes Divinos, IV, 5. ↩
Platão, Fedro, 245 a. Os renascentistas puderam saber do rio Letes através de Platão e de Dante, O Purgatório, 31. O rio do esquecimento se encontra igualmente mencionado por Ficino na carta ao matemático Banco, O Poder da Memória ( trad. e notas de A. Chastel, Lettres sur la connaissance de soi et sur l’astrologie, Paris, La Table Ronde, 3, 1945, pags. 187-209). ↩
Ibidem, 538 a ↩
Ibidem, 534 c-d ↩
Ibidem, 534 e ↩
A associação de Júpiter com a mente se encontra estabelecida no perdido tratado de Porfírio, “Do culto das imagens”, amplamente reproduzido por Eusébio, Preparação Evangélica, III, 9, 3. Porfírio deve ter se inspirado em Plotino, Enéadas, III, 5, 8. Entretanto, para Plotino, a primazia recai em Saturno. ↩
Na Teologia Platônica, IV, 1, Ficino repete esta classificação, sem mencionar, não obstante, a Júpiter e a Apolo. Vide A. Chastel, op.cit., pag. 137, onde se analisa a “hierarquia poética” descrita aqui. ↩
O problema de associar nove Musas à oito esferas havia sido resolvido por M. Capella, De Nuptiis, I, 27, assinalando Talia à Terra ( vide J. Seznec, Los dioses en la Antiguidad en la Edad Media y el Renacimiento, Madrid, taurus, 1983, pag. 117 y n.44) ( Porfírio associava sete das Musas com sete planetas, e acrescia uma Musa à “esfera dos fixos” e outra à “esfera de cima de nós, chamada entre eles (os pitagóricos), por outro modo, anti-terra” (Vida de Pitágoras). Sobre a “anti-terra”, vide Aristóteles, De Caelo, B, 13, 293 a; nota de M.Periago LLorente em sua ed. de Porfírio, op. cit., n. 48). A solução que oferece Ficino, no entanto, é inédita e consiste em levar a calíope, normalmente designada para Mercúrio (por exemplo, em Gafurius, Practica Musica; vide J.Seznec, op. cit., pag.118, il 48) até aparelhá-la com a alma do mundo, situada por cima da região das esferas (esta solução poderia inspirar-se em A. T. Macrobio, op. cit., II, 3 onde Calíope — seguindo à Hesíodo, para quem calíope já era “a primeira de todas” (Teogonia, v. 76) — é qualificada de “o conjunto de todo o perfeito”). dado que para o próprio Ficino, ao igual que para Macrobio (op.cit., II, 17; vide nota 33 adiante) Júpiter costumava presidir a alma do mundo ( M. Ficino, De Amore, II, 7; Phaedrum Commentaria, 13; segue a Platão, Fedro 246 e ; vide também M. Ficino, De Vita, III, 22, onde Júpiter, pai dos deuses, influi na “alma dos que praticam uma atividade terrestre”, enquanto que saturno rege a mente do mundo e, correlativamente, ajuda àqueles que sua mente lhes dirige em práticas contemplativas celestes), não fica claro o que ocorre quando Calíope ocupa o lugar de Júpiter (vide M. J. B. Allen, op. cit., pag.29, n. 68; A. Chastel, op. cit., pags. 137-138 ↩
NT: musica, musicae no original em latim que significa: 1. Música; 2. Poesia. ↩
Platão, A República , X, 617 b. Vide notas 34 e 36 à De Divino Furore. ↩
A. T. Macrobio, op.cit., II, 17. ↩
Hinos à Orfeu, 45-54. Vide M. Ficino, In Phaedrum Commentaria, 7. ↩
Calíope era a Musa que inspirava a poesia épica, mas Platão (ibidem) a havia destinado para “aqueles que se dedicam a filosofar” sem descuidar o culto da música adequada à dita poesia ( quer dizer, aosverdadeiros poetas, os que falam escutando a “voz das esferas”, na versão de Ficino, por outro lado, efetuado por Platão não era inadequado dado que Calíope era “a mais nobre de todas (…). É, com efeito, a que sempre acompanha aos reis veneráveis”, em palavras de Hesíodo, prelúdio, Teogonia). Sobre o lugar de Calíope e Urania, vide M. Ficino, In Phaedrum Commentaria, summae 35. ↩
Polymnia, associada à Saturno, e Eratos à Vênus, são as principais Musas inspiradoras. Ficino, neste caso, se desmarca de sua In Phaedrum Commentaria, 4, que é fiel à Platão, Fedro, 259 c. Vide M. J. B. Allen, op. cit., pag. 46, n. 12. ↩
Talia, justamente, significava “viço”, e era a musa dos “lunáticos”, quer dizer, os atores de teatro. ↩
NT: obliquus no original em latim que significa oblíquo. Também pode ser traduzido por: disfarçado, escuro, enigmático. ↩
NT: vox, vocis 1. voz; 2. voz ( modificada pelo canto), canto, som ( dos instrumentos). ↩
Vide M. Ficino, “De Musica”. em Epistolarum, I, em Op. Omn., I, pag. 650. Documentou-se em Santo Agostinho, De Musica (vide R. Marcel, Marsile Ficin, pag.674, n.3). Uma introdução às “neates” e às “hipates” em Plutarco, De Musica, em Moralia, XIV, 1.137. ↩