eudaimonia

eudaimonía: felicidade

Ela não consiste, segundo Demócrito, nos bens externos (Diels, frgs. B170, 171, 40). O homem justo é feliz, assim Platão Republica 353b-354a, e a melhor vida é a mais feliz (idem, Leis 664c). A felicidade é o supremo bem prático para os homens (Aristóteles, Ethica Nichomacos I, 1097a-b), definido, ibid. I, 1098a, 1100b. Consiste na contemplação intelectual, ibid. 1177a-1178a. No estoicismo a felicidade resulta da vida harmoniosa (D. L. VII, 8; ver nomos), contudo não é um fim (telos), mas um estado concomitante (Sêneca, De vita beata 8 e 13; Plotino, Enéadas I, 4, 4; I, 4, 14); ver theoria. (Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters)


eudaimonia (he) / eudaimonia: felicidade. Latim: felicitas, beatitudo.

Formado por daímon / daimon, espírito, e eu / eu, bem, significa estado de contentamento estável no qual se encontra o espírito.

A felicidade é o objetivo da sabedoria. O sábio é então eudaímon / eudaimon: feliz. A primeira filosofia, na época jônica, está voltada para o mundo, para o objeto; seu objetivo é saber. Assim começa a Metafísica de Aristóteles: “Todos os homens, por natureza, desejam saber (eidénai / eidenai).” Os pitagóricos, sob a influência da religião órfica, somam ao saber a felicidade pessoal; depois, Sócrates condena a curiosidade objetiva para substituí-la pela preocupação com a interioridade (Xenofonte, Memorabilia, 1,1,11-16; Platão, Apologia de Sócrates, 20c-23c). Os dois autores que estabelecem os grandes sistemas de filosofia, Platão e Aristóteles, são herdeiros das duas correntes e têm em mira a metafísica e a moral, juntas. Mas, depois deles, os filósofos passam a considerar que a filosofia especulativa é um simples coadjuvante da sabedoria, cujo objetivo é a descoberta da felicidade.

As palavras de ouro, atribuídas a Pitágoras, ensinam que, para termos uma vida feliz, basta que aprendamos simplesmente o que nos importa (v. 30-31), fórmula vaga que significa nossa perfeição pessoal. Mas, segundo Heráclides do Ponto, Pitágoras afirmava que a felicidade reside na contemplação da perfeição dos números (Clemente de Alexandria, Stromata, II, XXI, 3), o que parece uma citação muito parcial. Arquitas de Tarento, um de seus mais eminentes discípulos, escreveu um tratado Do homem bom e feliz, associando assim a felicidade à moral. Nessa mesma época, a ideia de felicidade também aparece em Demócrito (Estobeu, Ed., II,VII).Vemos em seguida o sofista Antifonte abordar Sócrates para dizer, zombando, que a filosofia não faz a felicidade; a isso Sócrates responde que esta não está nas riquezas e nas honrarias (Xenofonte, Memorabilia, I,VI, 2-10). Depois, vemos Aristipo de Cirene pôr a felicidade na liberdade, situação estranha tanto à escravidão quanto ao poder político (ibid., II, 1,11).

Na República (IV, 420b), Platão exprime uma opinião ao mesmo tempo democrática e dirigista da felicidade: o Estado não tem como função garantir a felicidade de alguns cidadãos privilegiados, mas tornar felizes todos os cidadãos, cada um na posição que lhe é reservada. Os livros IV a VIII empenham-se em buscar o bem, em seu esplendor metafísico e em sua aplicação política; é apenas no livro IX (576c) que ele associa virtude e felicidade (areté kai eudaimonia). E, visto que a virtude é de essência sobrenatural, os próprios deuses são felizes (Banquete, 195a).

Foi, Aristóteles que definiu de modo mais rigoroso a felicidade. A Ética a Nicômaco, bem mais que um tratado de moral, é um manual da felicidade: todos os homens buscam a felicidade, que é o Bem supremo, e só a encontrarão na perfeita virtude (I, IV). E chega-se à famosa definição segundo a qual a felicidade é fruto da atividade mais perfeita do espírito humano de posse de seu objeto mais elevado (X, VII, 1). Ora, a faculdade mais perfeita é a parte epistêmica da alma, fonte da virtude dianoética (v. areté / arete); e seu objeto mais elevado é constituído pelos primeiros princípios (v. psykhé / psiche); a felicidade, portanto, está na contemplação (theoría / theoria) dos conceitos mais sublimes. Com maior razão, Deus, Princípio primeiro que se contempla a si mesmo (v. nóesis / noesis), está na beatitude perfeita (Met., Lambda, 7, 1072b). (Gobry)

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