É impossível decidir a questão de saber se alguma vez Platão leu Heráclito, ou se, tendo-o lido, não quis desentendê-lo, servindo qualquer propósito que ignoramos, pois é precisamente dele que nasce a falsa noção do panta rhei, que sabemo-lo hoje, não tem qualquer lugar nos escritos autênticos do próprio Efésio. Nem se pode invocar aqui a lacunaridade da tradição direta; pois o que vale é a incompatibilidade de uma concepção do «devir universal» com o que podemos depreender seguramente do conteúdo dos demais fragmentos que possuímos. Não vejo, de modo nenhum, como «Platão, desenvolvendo uma linha de pensamento que se reporta de algum modo a Heráclito… sucedeu-lhe o desfechar-se da sua dialética». (Eudoro de Sousa, “Sempre o mesmo acerca do mesmo”)