gr. eusebeia = piedade, devoção, temor a Deus, religião. No diálogo Eutífron, Platão apresenta Sócrates, condenado por “impiedade” (asebeia), como modelo de piedade, ridicularizando a hipocrisia de Eutífron, que se preocupa mais em evitar o pecado que a injustiça, e acaba abandonado a investigação sobre a natureza da piedade.
A significação só poderia ser devidamente elucidada pelos conhecimento dos papiros. Segundo os estudiosos, já em Isócrates este termo designava a piedade para com Deus e para com os pais, assim confirmada pela Calligraphia graeca, de Possel. Creio, estou mesmo seguro, que no pensamento de Paulo Apostolo (onde é muito usado em 1Tm), este termo significa a “fé verdadeira”, e que quando o utiliza em grego to tes eusebeias mysterion (1Tm 3,16), ele pensa na expressão aramaica raza d’m’hemounoutha (“mistério da verdadeira religião”). A respeito deste termo há algum tempo já Agostinho de Hipona (Enchir., c2) ensinava: : dicitur etiam graece pietas, et aliter idem eusebeia: quo nomine significatur bonus cultus”. Segundo Foucart, “eusebes” é ainda um título prodigado nos monumentos epigráficos; mas jamais, nestes textos, a palavra piedade não tem o sentido elevado que aí associam os modernos: ele marca o exato cumprimento das cerimônias do culto. [Paul Vulliaud]
Segundo o “The New International Dictionary Of New Testament Theology”, de Coenen & Brown, a raiz seb- significava, originalmente, “recuar” diante de alguém ou de alguma coisa, “manter distância”. A partir deste significado espacial, na medida em que contextos frequentemente davam razão de se manter à distância, desenvolveu-se a ideia metafórica da agitação por razões diferentes: desde a vergonha, passando pelo espanto, chegando a algo semelhante ao medo. Esta atitude evocada por aquilo que é sublime e majestoso, ou pelo risco do fracasso.
As palavras que derivam da raiz seb- são muito frequentes em grego, e transmitem a ideia de devoção e religiosidade tão características dos gregos. Esta devoção não consiste em obediência consagrada a um Deus único, entendido em termos pessoais; pelo contrário, é um santo temor, espanto ou admiração evocada pela majestade revelada em objetos, homens ou deidades. Para os gregos aqueles que são dignos de reverência são, acima de tudo, os membros da própria família (inclusive os ancestrais), os deuses e as leis que estes ordenaram. Eusebeia é uma das virtudes do homem que é justo e aceitável diante dos deuses.
Segundo Aristóteles, é uma espécie de pena a respeito de um mal destruidor ou doloroso que parece atormentar alguém que não o merece, mal que se entende poder sofrer ou um dos seus. [Notions philosophiques]