A noção de faculdade (dynamis), de ordem psicológica, é, aliás, dependente da noção de parte (meros), que é de ordem metafísica, mas acentua as suas divisões. Em Pitágoras, para quem a realidade está sob o signo divino da Tétrade2, ou Tetractys (tetraktys), as faculdades são quatro: razão contemplativa (noûs), razão raciocinante (epistéme / episteme), opinião (dóxa / doxa), sensação (aísthesis / aisthesis). Mas, segundo Aresas de Lucânia3, citado por Estobeu (Ed., I, 2), a alma humana para Pitágoras compreende três faculdades: inteligência (nóos), coração (thymós) e sensibilidade (epithymía). Platão segue-o de perto; as duas grandes divisões da alma, racional e irracional, são fonte de duas faculdades: ciência (epistéme) e opinião (dóxa); por sua vez, a ciência comporta dois graus: razão intuitiva (nóesis / noesis), que contempla as Essências, ou princípios eternos; e razão discursiva (diánoia / dianoia), que tem por objeto as noções abstratas e os conceitos matemáticos; a opinião comporta também dois graus: conjectura (eikasía / eukasia), que tem por objeto as imagens do real sensível; e crença (pístis / pistis), que tem por objeto as próprias realidades sensíveis.
Aristóteles esboçou várias escalas das faculdades mentais. Em Ética nicomaqueia (VI, II), apresenta três elementos necessários à busca da verdade, de baixo para cima: tendência (órexis / orexis), cuja dupla função é a busca do útil e a fuga ao nocivo; sensação (aísthesis / aisthesis), necessária à experiência; pensamento (noûs), que tem a função de afirmar e negar. Mais adiante (VI, III, 1), enumera as cinco espécies de atividade que têm fonte na alma: arte (tékhne / techne), disposição racional para a fabricação; ciência (epistéme / episteme), disposição racional para a demonstração; fronese, habitualmente chamada prudência (phrónesis / phronesis), ou faculdade reflexiva da ação; inteligência (noûs), ou faculdade de conhecer os princípios; sabedoria (sophía / sophia), ou perfeição nos diversos gêneros de conhecimento. A lista varia ligeiramente no início da Metafísica (A, 1), em que a prudência é substituída pela experiência (empeiría / empeiria), conhecimento do individual obtido pela sensação e pela memória.
Os estoicos distinguem três faculdades mentais: atração (órexis / orexis), com seu negativo, a repulsão (ékklisis / ekklisis), movimento da alma, positivo ou negativo, em relação às coisas sensíveis; inclinação (hormé / horme), com seu negativo, aversão (aphormé / aphorme), ou movimento da alma, positivo ou negativo, em relação aos valores; assentimento (synkatáthesis / synkatathesis) ou adesão íntima aos movimentos condizentes com a Natureza (Epicteto, Manual, I, 1, XXI, 4; XLVIII, 3; Leituras, III, II, 3; III, XXII, 43; II, XIV, 22; IV, I, 69-73; Marco Aurélio,VIII, 28; Cícero, De officiis, 28; Definibus, III, 7; Lucullus, 12). Segundo Diógenes Laércio (VII, 110), os estoicos atribuem oito faculdades à alma: os cinco sentidos (o que reduz as cinco primeiras a uma, a sensação), a palavra, a razão (diánoia / dianoia) e o poder de engendrar (gennetikón / gennetikon), que não é precisamente mental. [Gobry]