Filebo 11a-12b — Prólogo

I – Sócrates – Então vê, Protarco, em que consiste a tese de Filebo, cuja defesa vais fazer, e também a nossa, que terás de contestar, no caso de não a aprovares. Queres que recapitulemos as duas?

Protarco – Perfeitamente.

Sócrates – Ora bem: o que Filebo afirma, é que, para todos os seres animados, o bem consiste no prazer e no deleite, e tudo o mais do mesmo gênero. De nossa parte, defendemos o princípio de que talvez não seja nada disso, mas que o saber, a inteligência, a memória e tudo o que lhes for aparentado, como a opinião certa e o raciocínio verdadeiro, são melhores e de mais valor que o prazer, para quantos forem capazes de participar deles, e que essa participação é o que há de mais vantajoso pode haver para os seres em universal, presentes e futuros. Não foram esses pontos, Filebo, mais ou menos, que cada um de nós defendeu?

Filebo – Isso mesmo, Sócrates; sem tirar nem pôr.

Sócrates – E agora, Protarco, aceitas amparar a tese que te confiamos?

Protarco – Sou obrigado a aceitar, uma vez que o belo Filebo já cansou.

Sócrates – Por todos os meios, haveremos de atingir a verdade nesse terreno.

Protarco – Sem dúvida.

II – Sócrates – Muito bem; acrescentemos ao que ficou dito mais o seguinte.

Protarco – Que será?

Sócrates – A partir deste momento, cada um de nós se esforçará por demonstrar qual é o estado e a disposição da alma capaz de proporcionar vida feliz aos homens. Não é isso mesmo?

Protarco – Exato.

Sócrates – Então, compete a vós ambos demonstrar que é o prazer; e a mim, a sabedoria.

Protarco – Perfeitamente.

Sócrates – E se descobrirmos outro estado, superior a esses? No caso de revelar-se mais aparentado com o prazer, não será certeza ficarmos ambos vencidos pela vida reforçada com essa vantagem, mas que a vida do prazer levará a melhor, com relação a da sabedoria.?

Protarco – Isso mesmo.

Sócrates – E se tiver maior afinidade com a sabedoria, esta é que vencerá o prazer, que acabará derrotado. Admites também esse ponto, ou não?

Protarco – Eu, pelo menos, admito.

Sócrates – E tu, Filebo, o que me dizes?

Filebo – De meu lado, sou de opinião que, de todo o jeito, o prazer sairá vencedor; mas a ti, Protarco, é que compete decidir.

Protarco – Desde que nos transferiste a discussão, Filebo, perdeste o direito de concordar com Sócrates ou divergir dele.

Filebo – Tens razão; e assim, daqui em diante considero-me desobrigado de responder, para o que invoco o testemunho da própria deusa.

Protarco – Nós, também, juntamos ao teu o nosso testemunho, com respeito a essa declaração. E agora, Sócrates, quer Filebo concorde, quer faça o que entender, procuremos desenvolver nossos argumentos até o fim.