XV – Sócrates – Vá que seja. E tua vida, Filebo, de prazer sem mistura alguma? Em qual dos gêneros enumerados precisaremos incluí-la, para classificá-la com acerto? Mas, antes de te explicares, responde-me ao seguinte.
Filebo – Podes falar.
Sócrates – A dor e o prazer apresentam limites, ou serão suscetíveis de mais ou de menos?
Filebo – Sim, Sócrates; são suscetíveis de mais; o prazer deixaria de ser todo o bem, se não fosse infinito por natureza, em grau e em quantidade.
Sócrates – Como também a dor, Filebo, deixaria de ser todo o mal. Assim sendo, precisamos procurar algo fora da natureza do infinito que comunique aos prazeres uma parcela do bem. Concedo-te que essa qualquer coisa pertença à classe do infinito. Mas então, Protarco e Filebo, a inteligência, a sabedoria e o conhecimento, em que classe incluiremos, dentre as mencionadas há pouco, para não nos tornamos irreverentes? Não é pequeno o perigo em que incorremos, conforme resolvermos certo ou errado essa questão.
Filebo – Colocas num pedestal muito elevado, Sócrates, tua divindade favorita.
Sócrates – O mesmo fazes com a tua companheira. Mas a pergunta não pode ficar sem resposta.
Protarco – Sócrates tem razão, Filebo; precisamos obedecer-lhe.
Filebo – Não assumiste o encargo de responder no meu lugar?
Protarco – Sem dúvida; mas agora me sinto realmente atrapalhado, e te peço, Sócrates, que nos sirvas de intérprete para que não cometamos alguma falta contra nosso adversário, sob a forma de expressão mal soante.
Sócrates – Farei o que pedes, Protarco: tanto mais que não me impões nada difícil. Mas, será verdade, como disse Filebo, que eu te deixei atrapalhado, quando, por brincadeira, falei com tanta solenidade, ao perguntar-lhe a que classe pertenciam a inteligência e o conhecimento?
Protarco – Foi realmente o que se deu, Sócrates.