Filebo 30c-31b — A inteligência pertence ao gênero da Causa

Sócrates – A não ser assim, melhor faríamos seguindo outra opinião, à qual já nos referimos tantas vezes, sobre haver muito infinito no universo, bastante finito, além de uma causa nada desprezível, que coordena e determina os anos, as estações e os meses, e que, com todo o direito, poderá ser denominada sabedoria e inteligência.

Protarco – Sim, com todo o direito.

Sócrates – Mas sem alma, não pode haver sabedoria nem inteligência.

Protarco – De jeito nenhum.

Sócrates – Dirás, então, que na natureza de Zeus há uma alma real e uma inteligência real formadas pelo poder da causa, bem como outros belos atributos nas demais divindades, designados da maneira que melhor lhes aprouver.

Protarco – Sem dúvida.

Sócrates – Decerto, Protarco, não irás imaginar que eu desfiei todo esse discurso sem segundas intenções. Ele serve para reforçar o juízo há muito enunciado, de ser o mundo, sempre, governado pela inteligência.

Protarco – Com efeito.

Sócrates – Além do mais, ensejou resposta à minha pergunta, sobre pertencer a inteligência ao gênero do que dissemos ser a causa de tudo, uma das quatro por nós admitidas. Aí tens a resposta que te devíamos.

Protarco – E bastante satisfatória, conquanto eu não houvesse observado que me havias respondido.

Sócrates – Muitas vezes, Protarco, uma brincadeira diminui a tensão dos estudos sérios.

Protarco – Falaste muito bem.

Sócrates – Assim, camarada, demonstramos de maneira iniludível a que gênero pertence a inteligência e que espécie de força lhe é inerente.

Protarco – Perfeitamente.

Sócrates – Como já descobrimos há muito o gênero do prazer.

Protarco – Sem dúvida.

Sócrates – A respeito de ambos, não nos esqueçamos de que a inteligência é aparentada com a causa e mais ou menos do mesmo gênero, enquanto o prazer é infinito em si mesmo e pertence ao gênero que não tem nem nunca terá em si e por si mesmo nem começo nem meio nem fim.

Protarco – De que jeito?