Filebo 66d-67b — Epílogo

XLII – Sócrates – Neste ponto façamos nossa terceira libação a Zeus salvador, com a recapitulação e o testemunho de nosso próprio discurso.

Protarco – Que discurso?

Sócrates – Filebo afirmou que o bem não era mais do que o prazer em todas as suas manifestações.

Protarco – Pelo que vejo, Sócrates, tua recente afirmativa equivale a dizer que precisamos recomeçar a discussão pela terceira vez.

Sócrates – Isso mesmo; mas escuta o que segue. Como tivesse presente tudo o que acabara de expor e me achasse desgostoso não apenas da doutrina de Filebo, como da de muitos outros, afirmei que a inteligência era um bem muito melhor e importante para a vida humana do que o prazer.

Protarco – Isso mesmo.

Sócrates – No entanto, por suspeitar que havia muitos outros bens, acrescentei que se chegássemos a encontrar algum melhor do que esses dois, bater-nos-íamos pela conquista do segundo lugar, a favor da inteligência, com o que o prazer o perderia.

Protarco – Sim, afirmaste isso mesmo.

Sócrates – Depois, apresentamos provas mais do que satisfatórias de que nenhum dos dois era suficiente.

Protarco – Exatíssimo.

Sócrates – Assim, nosso discurso demonstrou à saciedade que não se justificava a pretensão do prazer nem da inteligência de serem o bem absoluto, visto carecerem ambos da autonomia e se revelarem insuficientes e imperfeitos.

Protarco – É muito justo.

Sócrates – Mas, havendo aparecido um terceiro competidor, de mais valia que ambos, a inteligência se nos revelou mil vezes mais próxima da essência do vencedor e com ela aparentada, do que o prazer.

Protarco – Sem dúvida.

Sócrates – Logo, de acordo com o julgamento de nosso discurso, só tocou o quinto lugar ao poder do prazer.

Protarco – Parece.

Sócrates – E de forma alguma o primeiro, ainda mesmo que todos os bois e os cavalos e todos os animais do mundo reclamassem para si, por só andarem todos eles empós do prazer. Os que confiam neles, como os adivinhos nos pássaros, ou seja, a maioria dos homens, acham que os prazeres são o que vida nos oferece de melhor, considerando testemunho de muito mais valor os instintos animais do que as razões divinas de muita musa filosófica.

Protarco – O que todos nós, Sócrates, declaramos é que demonstraste admiravelmente bem essa verdade.

Sócrates – Então, dispensai-me agora mesmo.

Protarco – Ainda falta uma coisinha de nada. Estou certo de que não vais cansar-te antes de nós; eu mesmo me incumbirei de lembrar-te esse restinho.