gnôrimon: cognoscível, inteligível
1. Embora a noção de que a cognoscibilidade das coisas é relativa e tenha os seus precedentes platônicos, ela é fundamental para a epistemologia aristotélica, particularmente porque se aplica aos objetos da metafísica. A distinção é apresentada claramente nos Anal. post. I, 71b-72a; as coisas são cognoscíveis (gnorimon) em dois sentidos diferentes; o que é por natureza (physei) mais cognoscível não é necessariamente para nós mais bem conhecido (prós hemas). A aplicação prática deste princípio é ambivalente. Na metafísica devia começar-se com as coisas para nós mais inteligíveis e com o nosso modo de conhecer, e prosseguir depois para aquilo que é intrinsecamente mais inteligível (Metafísica 1029b); na ética os homens deviam ser educados para ver que aquilo que é intrinsecamente bom é também um bem para eles (Ethica Nichomacos V, 1129b; o paralelismo ético é referido na Metafísica, loc. cit).
2. A raiz deste princípio deve procurar-se dentro dos quadros mais gerais da teoria aristotélica do conhecimento, visto que a diferença nos graus de inteligibilidade não é devida a qualquer defeito no objeto mas antes na nossa maneira de conhecer (Metafísica 993b). A base de toda a nossa cognição é a percepção dos sentidos (aisthesis), e até a demonstração silogística (apodeixis) assenta numa forma de indução (epagoge), i. é, num processo que começa com a percepção dos particulares (Anal. post. II, 100b). O conhecimento científico (episteme) diz respeito ao universal (katholou), e embora as percepções sensoriais concebam imediatamente uma espécie de «universal concreto» (ver Physica I, 184a), este não é o universal da ciência que é apreendido apenas pela razão (logos).
3. O papel da filosofia então é partir daquilo que é para nós inteligível, i. é, o vislumbre da inteligibilidade que se tem através dos sensíveis (aistheta), imediatamente percebidos, para aquilo que é de si propriamente inteligível (physei).
4. Os antecedentes platônicos de tudo isto são claros. A linguagem da Metafísica 1029b acima referida é reminiscência da distinção platônica entre os inteligíveis realmente existentes (ontos on) e o estatuto quase-real (pos on) do mundo sensível; a descrição que Aristóteles faz dos defeitos do nosso conhecimento sensorial (Metafísica 993b) é um eco da imagística da Alegoria da Caverna na Republica 516a. Para os dois filósofos a verdadeira inteligibilidade é função da imaterialidade (ver Meta 1078a), e enquanto concordavam em que o mais alto tipo de conhecimento é o estudo do inteligível-em-si (ver episteme, dialektike, theologia), onde diferem é nas suas atitudes para com o estudo dos sensíveis. O curriculum platônico na República X é estruturado para afastar do sensível para o inteligível; a imanência do eidos aristotélico garante o valor de um estudo dos aistheta (confrontar a diferença paralela entre a indução platônica (synagoge) e a aristotélica (epagoge)), quer num sentido histórico como a investigação das opiniões dos outros (ver aporia, endoxon), quer como a extração do inteligível vaga e discursivamente apreendido a partir do sensível imediatamente percebido. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]