dynamis (he) / dynamis: potência, capacidade. Latim: potentia.
Do verbo dynamai: posso, sou capaz. Propriedade daquilo que, mesmo sendo atualmente passivo, pode:
– passar à ação; ou
– receber a ação de um agente.
Definição do Ser segundo Platão: “Aquilo que tem a potência de agir (poiein) sobre outro ou de sofrer a sua ação” (páskhein / paskhein) (Sofista, 247d-e).
Quatro sentidos:
– capacidade, propriedade, “virtude” (no sentido medieval: virtude dormitiva de certas plantas);
– metafisicamente: potência passiva — fato de padecer, receber;
— metafisicamente: potência ativa = capacidade de agir.
Capacidade, “virtude”. “A ciência (epistéme) tem certo objeto e possui uma virtude própria que lhe permite atingir seu objeto” (Platão, Cármides, 168b). As Essências eternas têm propriedades que só permitem comparação umas com as outras (Parmênides, 150c-d).
Faculdade mental. “As faculdades (dynámeis / dynameis) são alguma coisa dos seres graças às quais podemos fazer o que podemos.” Em seguida, Platão designa a ciência (epistéme) e a opinião (dóxa), mas também a visão e a audição (Rep.,V, 477c). Diz Aristóteles: “Chamo de faculdades nossa possibilidade de sentir paixões (…), por exemplo cólera, ódio ou piedade” (Et. Nic, II, V, 2). Em outro lugar, as faculdades da alma são as potências nutritiva, desiderativa, sensitiva, locomotora, pensante (De an., 11,3).
Potência passiva (oposta ao ato: enérgeia / energeia). E o sentido mais clássico a partir de Aristóteles. “Chama-se dynamis a potência de movimento (kínesis) ou mudança (metabolé) num ser (…) A faculdade de ser modificado ou movido por outro” (Met., A, 12).”A potência passiva (exatamente: potência de sofrer: dynamis toû pathein) é, no ser passivo (paciente: ho páskhon), o princípio de mudança (arkhé metabolês) que ele está apto a receber de outro ou de si mesmo enquanto outro” (ibid., 0, 1). Na análise da sensação (aísthesis), Aristóteles constata que esta pode ser vista de duas maneiras: em potência ou em ato, conforme nos coloquemos do ponto de vista da faculdade de sentir ou do objeto que causa a sensação (De an., II, 5). Em outro lugar (Met., 0, 5), Aristóteles enumera três tipos de potência: as inatas, como os sentidos; as adquiridas pelo hábito, como a arte de tocar flauta; e as obtidas pelo estudo (máthesis). Plotino dedica um tratado (II,V) à resposta a esta indagação: “O que quer dizer em potência e em ato?”
Potência ativa (oposta à potência propriamente dita, ou seja, passiva). Para Platão, a verdadeira causa (aitía), que é dynamis, é uma força divina (Fédon, 99c). As realidades do mundo sensível não têm poder (dynamis) sobre as realidades do mundo inteligível (Parmênides, 133e). Nesse sentido, as artes — diz Aristóteles — são potências de mudança em outro ser (Met., 0,1); v. enérgeia. Para Plotino, o Uno (hén) é Potência, e fortemente Potência, pois é ele que produz todos os outros seres: ele é Princípio (arkhé) (V, II, 15-16). (Gobry)