kakón (tó) / kakon, mal. Latim: malum. Plural: kaká (tá) / kaka.
No masculino: kakós (ho) / kakos; malvado, aquele que comete o mal.
Kakón é o adjetivo neutro substantivado de kakós, mau, ruim. Designa o mal em geral, porém mais especialmente o mal moral, aquele que é cometido pelo homem.
O problema do mal (geral ou moral) não suscita de início a reflexão dos filósofos. O mal não é um problema, ou pelo menos é um escândalo, mas só encontra uma explicação oficial, a da mitologia, repetida pelos poetas: Teógnides, Esquilo e Sófocles lamentam a infelicidade da humanidade, inclinando-se diante dos ditames irrevogáveis da divindade. Graças ao orfismo, a doutrina da imortalidade da alma é adotada por Ferecides, Pitágoras e seus discípulos (v. psyche), oferecendo assim uma sobrevida feliz após uma vida infeliz. Mas só o sábio pode obtê-la, porque faz o bem (agathon). A partir dessas contestações, a reflexão filosófica tenta responder a várias indagações: o mal sofrido pelo homem é gratuito e alheio à sua responsabilidade? O mal cometido por ele é culpado? O que pode dissuadir o homem de cometer o mal?
Pitágoras tenta conciliar teologia e moral, afirmando ao mesmo tempo a bondade da divindade e a responsabilidade do homem: o Destino não envia males aos homens de bem, mas somente aos culpados, que só devem lançar a culpa sobre si mesmos (Palavras de ouro, 17-20, 24-58; Jâmblico, Vida de Pitágoras, 21, 8; Hiérocles, Sobre os Versos de ouro de Pitágoras, 11; Aulo Gélio, Noites áticas, VI, 2); Sócrates, a crer-se em Platão no Protágoras (345d-e), professava a irresponsabilidade do autor do mal; sua ação só se explica pela ignorância: “Aqueles que fazem o mal (kaká) cometem-no sem querer”; e também (Górgias, 361b): “Ninguém é injusto voluntariamente.” Mas não encontramos nenhum eco dessa afirmação em Xenofonte, que, contudo, era ouvinte zeloso de Sócrates. Platão, que pessoalmente adota a doutrina contrária, mostra as almas culpadas condenadas pela Justiça divina (Fedão, 108b-c);mas não usa a palavra kakón. Por outro lado, os pitagóricos atribuíam a existência do mal ao mundo sensível, que eles chamam de inacabado (ápeiron) (Aristóteles, Et. Nic, II,VI, 14). Epicuro adota a teoria do Protágoras ao afirmar que ninguém escolhe o mal, pois todos são atraídos pelo bem (Sentença n°. 16). Para os estoicos, o mal não existe objetivamente: como a Natureza universal é perfeita, não há lugar para o mal (Epicteto, Manual, XXVII; Marco Aurélio, VI, 1; Cícero, De nat. deor., II, 14). Subjetivamente, o mal é uma aparência (Epicteto, Manual, 1,5;V); para Crisipo, são os homens os culpados de seus próprios males, quando se recusam a usar a própria razão (Aulo Gélio, Noites áticas, VI, 2); para Marco Aurélio, o mal existe de certa maneira, mas nos é enviado pela Providência para exercitar nossa virtude (IV, 49;VIII, 46). Essa também é a opinião do acadêmico Bion de Boristene: “O mal é não poder suportar o mal” (D.L., IV, 48). Plotino desenvolve sua teoria do mal no tratado sobre A origem dos males (I,VIII). O mal é a ausência do Bem; ora, é na matéria que o Bem está completamente ausente; logo, o mal está na matéria. No homem, é o corpo que participa da matéria, sendo a fonte do mal para a alma. Assim,”não somos o princípio de nossos males (…) o mal existe antes de nós; ele possui o homem à sua revelia” (VIII, 5). (Gobry)