psykhé (he): alma. Latim: anima.
Princípio, de natureza vital ou espiritual; mais habitualmente, das duas ao mesmo tempo; princípio que anima o corpo.
Esse corpo pode ser o universo; a alma é então a alma do mundo: psykhé toû kósmou, ou toû pantós.
A alma parece exclusivamente vital em vários fragmentos de Heráclito, em que se diz que ela nasce da água (fr. 36, 77) ou que seca (fr. 122). Mas em outro lugar se diz que ela contém o Lógos, ou seja, a razão universal (fr. 45). Encontram-se também os dois aspectos em Marco Aurélio: ele afirma, por um lado, que a alma é espiritual (noerá) e, por outro, que ela é uma parte da Substância universal (XII, 30, 32).
De fato, a alma humana, para os principais autores, é composta de várias partes: uma material e mortal, fonte do conhecimento sensível; outra espiritual e imortal, fonte do conhecimento intelectual. Aécio escreve: “Pitágoras e Platão consideram que a alma está dividida em duas partes: uma dotada de razão e outra desprovida de razão” (IV, IV, 1). E acrescenta adiante que a alma racional é incorruptível, enquanto a outra é corruptível (ibid., IV, VII, 5).
A realidade, aliás, é menos simples. Alexandre Poliístor (D.L., VIII, 30) informa que, “segundo Pitágoras, a alma humana se divide em três partes”, às quais ele dá nomes fantasistas. Mas, como acrescenta que só a primeira é imortal, mais vale referir-se de novo a Aécio, que esclarece, com mais exatidão, que a alma pitagórica é tripla, e a parte privada de razão compreende uma subparte afetiva (thymikón) e uma subparte sensitiva (epithymetikón). Mas então é preferível falar de faculdades mentais.
Encontra-se a mesma teoria em Platão. No Timeu (69c), ele mostra o Demiurgo formando duas almas para o homem: uma dotada de um princípio imortal e fadada a separar-se do corpo, e outra mortal, para animar o corpo. No entanto, em República (IV, 439a-441c), ele divide a alma em três partes; mas também toma como ponto de partida uma divisão bipartite: princípio racional (lógos) e princípio irracional (álogon); mas este último se desdobra em coração (thymós), que tem sede no peito e preside à vida afetiva, e sensibilidade (epithymía), que tem sede no ventre e preside à vida vegetativa. Platão depois (Rep., IX, 580c-583a) estabelecerá uma correspondência dessas três partes da alma com as classes sociais: o povo, governado pela sensibilidade; os guerreiros, governados pela força; os dirigentes, governados pela razão.
Aristóteles adota o esquema bipartite (Ét. Nic, VI, I): a alma humana compreende, por um lado, uma alma dotada de razão e, por outro, uma alma desprovida de razão. Em De anima, ele desdobra a alma irracional. De fato, define a alma como “aquilo pelo que vivemos, percebemos e pensamos” (De an., II, 23, 414b).Três funções que só podem incumbir a três almas diferentes: uma alma vegetativa, que o homem tem em comum com os vegetais e os animais; uma alma sensitiva e motora, que tem em comum só com os animais; uma alma intelectual, alma que conhece e compreende, que é “o lugar das ideias” (De an., III, 4), e só ele possui.
Plotino constata que a alma é ao mesmo tempo una e múltipla (IV, II, 2). Se falamos de partes da alma (mére, sing. meros), é em sentido totalmente analógico e sem semelhança com as partes do corpo (IV, III, 2). Nem sequer se pode dizer que a alma está no corpo, pois ela não é extensa (IV, III, 20). Feita essa advertência, Plotino acompanha seus predecessores; a alma é tripla: vegetativa, possibilita que o corpo se alimente e cresça; sensorial e apetitiva, possibilita a imaginação e a vida afetiva; relacional, “não tem nenhum contato com o corpo” e é sede do conhecimento superior (IV, III, 23), por isso se pode dizer que a alma humana é, de fato, de natureza inteligível e divina (IV, II, 1).