Excertos de Martin Heidegger, Questions I-II. Paris: Gallimard, 1968, p. 566-567.
Comentando uma passagem da Física (193 b 12-18) de Aristóteles, Heidegger diz: “A physis é hodos ek physeos eis physin — é estar-em-caminho, para isto que se instala a si mesmo — e isto de tal sorte que a instalação ela mesma é certamente do gênero disto que se instala e é a pro-duzir. Como não ser tentado a crer então que a physis seja por conseguinte um gênero de se-fazer-a-si-mesmo, logo uma techne, com a única diferença que ao fim desta fabricação teria o caráter da physis? Uma tal techne, nós conhecemos um exemplo: a iatrike, a medicina, que tem por telos a hygieia, seja um estado de tipo “físico”. A iatrike é hodos eis physin. Somente, no momento mesmo onde parece preparar-se uma analogia entre a physis e a iatrike, trai-se a essencial diferença na maneira pela qual as duas levam um physei on a ser. Com efeito, a iatrike permanece, enquanto hodos eis physin, um caminhamento para algo que não é a iatrike, visto que a medicina tem precisamente seu fim na saúde — e aí somente; mesmo quando o médico prática a medicina para alcançar o mais alto grau do saber-fazer, isso não tem lugar, ainda uma vez, senão na meta de alcançar uma boa vez o telos — a supor evidentemente que o médico seja um médico, e não um homem de negócios ou um escravo da rotina.”