phos (Heidegger)

Excertos de Heidegger, “Heráclito

Se para os pensadores originários a physis é o que permanece como a única causa a ser pensada, teremos então, oportunamente, que nos deter admirados no fato de Artemis aparecer na proximidade de Heráclito. Essa proximidade seria precisamente o sinal de que Heráclito é um pensador originário. Artemis aparece com tochas em ambas as mãos. É chamada de phosphoros, de portadora da luz. A essência da luz (phaos, phos) é a claridade sem a qual nada aparece, sem a qual nada pode sair do encobrimento para o desencobrimento. A essência da physis é, porém, surgir e espraiar-se simultaneamente numa abertura e clareira. phos, phaos, luz, e physis, surgir, e phaino, brilhar e aparecer, possuem raízes na própria essência daquilo que nem os pensadores originários dos gregos e nenhum dos pensadores posteriores chegaram a pensar, na unidade de sua riqueza.

Chamamos essa essência de clareira (Lichtung), palavra única, mas ainda não pensada. No sentido de abrigar abrindo e clareando, a clareira é a essência originária que se vela na aletheia. Este é o nome grego para dizer verdade, mas para os gregos significa desencobrimento e des-cobrimento. Na essência escondida da aletheia, physis (natureza) e phaos (luz) trazem o fundo da unidade velada de sua essência. Deve-se observar que, embora sem possuir a menor ideia sobre o nexo essencial acima referido entre physis e phaos, a linguística moderna chegou a reconhecer que as palavras physis e phaos são a mesma palavra. Mas o conhecimento linguístico não é prova de nada. E isso porque não passa de apêndice e consequência de opiniões tecidas com base em nexos de essência assumidos de forma inconsciente e irrefletida.

,