Hípias menor
Sobre a mentira e a verdade. Insuficiência do racionalismo moral de Sócrates. Não chega a nenhuma conclusão.
Resumo de Jean Brun
No Hípias menor, um novo tipo de sofista é-nos apresentado: aquele que pretende possuir um saber enciclopédico. Hípias, que vem a Olímpia regularmente, nunca encontrou homem tão sábio quanto ele, conhece todas as ciências e todos os ofícios, fabricou tudo aquilo que traz vestido, sabe escrever poemas e tragédias, discursos e epopeias. Sócrates quer mostrar-lhe que falta o essencial nesse saber enciclopédico. Hípias acaba precisamente de dar uma conferência sobre Homero e Sócrates pergunta-lhe quem se deve preferir, se Aquiles ou Ulisses. Para Hípias, Aquiles é verídico e simples (365 b) enquanto Ulisses é pérfido e duplo; portanto, não só os dois personagens são diferentes, como Aquiles é melhor que Ulisses (369 c). Sócrates critica esse ponto de vista; o homem que não mente e aquele que engana não são no fundo diferentes. Aquele que engana é de facto um homem inteligente, hábil, que sabe o que faz; se engana não é involuntariamente e por fraqueza de espírito. O homem que engana é portanto alguém que pode, ao mesmo tempo, dizer a verdade e a mentira. O homem verídico e o homem enganador são portanto dois homens que sabem a verdade. Dando mais um passo podemos afirmar (373 c e seg.) que aqueles que fracassam voluntariamente valem mais do que aqueles que fracassam involuntariamente; para falhar uma obra voluntariamente é necessário ter-se a mesma habilidade que para a conseguir voluntariamente. Será então necessário dizer que a nossa alma é melhor se as suas faltas forem voluntárias do que se forem involuntárias (375 cd). Conclusão insustentável que basta para mostrar que a ação moral não se reduz a uma técnica da astúcia, a uma habilidade técnica. Todos os conhecimentos de Hípias são portanto vãos; podem ser úteis, mas também podem ser prejudiciais. Hípias só conhece meios, ignora o saber essencial: o dos fins.