hyle

hýle (he): matéria. Latim: matéria.

Derivado: hylikós / hylikos: material.

Substância indeterminada comum aos corpos: uma árvore, um móvel e uma bengala têm como matéria comum a madeira. A abstração chega a imaginar uma matéria indiferenciada, que não é nem madeira, nem pedra, nem metal, mas uma realidade sensível de que são feitas todas as coisas.

Hyle significa, primitivamente, madeira, árvore, floresta, lenha. Os filósofos adotaram essa palavra para designar a matéria que, devido a seu caráter indiferenciado, não tinha denominação. A matéria opõe-se, por um lado, ao espírito (noûs), que é a realidade imaterial por excelência, e, por outro, à forma (eidos, morphé), que é o ato metafísico exercido sobre a matéria para diferenciá-la. A matéria primeira (próte hyle / prote hyle) é a matéria em geral, considerada fora de sua forma; a matéria próxima (eskháte / eskhate) é a matéria da realidade singular, unida à forma (Aristóteles, Met., H, 6). Outra oposição: a matéria sensível (aistheté / aisthete) e a matéria inteligível (noeté / noete), por exemplo a dos seres matemáticos (ibid., Z, 10).

Os primeiros pensadores jônios não usaram a palavra hyle, universal demais para eles; mas, para encontrar uma matéria única na origem do mundo, eles privilegiaram ora a água, ora o ar, ora o fogo, como Princípio (arkhé / arche) material do mundo. Ocorre certo progresso com Anaximandro, segundo chefe da escola de Mileto, quando ele propõe como princípio de todas as coisas o indeterminado (ápeiron / apeiron), o que é outro nome da matéria.

O uso de hyle, a crermos em Aécio (I, XXIV, 3) e no Pseudo-Plutarco (Epítome, I, 24), começa com Pitágoras, que afirma que, por ser inerte (patheté / 7ia0rrxfj), a matéria está submetida à corrupção (phthorá). Diógenes Laércio (II, 6) afirma que Anaxágoras foi quem “primeiro uniu o Espírito (noûs) à matéria”.

Platão não usa esse termo, mas Aristóteles o emprega abundantemente. A matéria é natureza (physis): é sujeito (hypokeiméne) universal do movimento (kínesis) e da mudança (metabolé) (Fís., II, 1,193a). Ela é Ser em potência, que deve passar ao ato graças à forma (eidos) (Met., H, 1) e tornar-se assim substância (ibid., H, 2). Aliás, de certo modo, ela é substância (ousía), pois continua idêntica a si mesma ao longo das mudanças (ibid., H, 1); e a substância pode ser tomada em três sentidos: como matéria, forma e composto (De an., II, 2). A matéria é causa (aitía); pois “chama-se causa, num primeiro sentido, a matéria imanente de que a coisa é feita” (Met., A, 2); pode-se até dizer que ela é causa primeira (ibid., H, 4); de qualquer modo, ela é uma das quatro causas das coisas sensíveis (Fís., II, 3,193b, 195a; 7,198b). Pode-se finalmente dar-lhe o nome de princípio: arkhé / arche, (ibid., I, 7,190b). Para os estoicos, a substância de todos os seres é a matéria primeira (próte hyle) (D.L.,VII, 150).

Plotino dedicou um tratado às Duas matérias (II, IV). São elas, por um lado, a matéria inteligível (noerá / noera), que é divina (theia / theia) e eterna (aídios / aidios); por outro lado, a matéria sensível (aistheté / aisthete), que não tem essas qualidades. As duas são indeterminadas (ápeiros / apeiros) (II, IV, 7,14,15). Portanto, ela é privação (stéresis / steresis) e, sendo privação, é não-ser (ouk ón / ouk on); Plotino retoma esses temas em outro lugar: a matéria, na qualidade de substratum (hypokemenon) físico, é não-ser (mè einai / me einai) e impassível (apathés / apathes) (III, VI, 7). E, assim, ela é o mal (tò kakón / to kakon) (I,VIII, 7-11). Em outro lugar (II, V 2), Plotino trata da matéria como ser em potência (dynamis). (Gobry)