imitação

Imitação/representação/mimese (mimêsis)

O significado original e predominante nos textos pré-platônicos do verbo mimeisthai é “representar uma pessoa”, “incorporar um papel”, especialmente na dança ou numa peça dramática. Disso deriva o significado “imitar, copiar um modelo do modo mais fiel possível”, que pode se referir particularmente à pintura ou, de maneira mais geral, a toda ação ou toda conduta imitativas. Os substantivos mimêsis e mimêma designam o processo ou o resultado da representação/imitação. Platão considera e avalia toda a mimese sob o aspecto da semelhança maior ou menor com a coisa representada/imita-da. Pela ênfase da referência ao modelo, o significado da palavra em Platão se move na direção de “imitação” (Koller 1954; Keuls 1978, p. 1-32; Kardaun 1993; Halliwell 2002, p. 15-22). A concepção da poesia como arte imitativa, ponto crucial da crítica à poesia na República (Livros II-III e X), remete, ao que tudo indica, a um ponto de vista reconhecido por todos (Leis 668b-c; cf. Halliwell 2002, p. 7; Leszl 2004, p. 141-149). Contudo, Platão não se interessa em praticar filosofia da arte e esboçar uma estética da imitação. Arte e poesia não são separadas de artes miméticas não poéticas como a sofistica e a retórica (cf. Sof. 235b-d, 265b-268c), mas tratadas juntamente com elas como expoentes de um mundo de aparência, através do qual o filósofo deve olhar como aparência, para chegar ao conhecimento da VERDADE de uma condução da vida apropriada. No pano de fundo se encontram a ontologia e a gnosiologia cópia-modelo da doutrina das Ideias (ver imagem/cópia), segundo as quais a imitação encontrada no mundo empírico (mimêma, segundo Sof. 241 e sinônima de eikôn, imagem, eidôlon, “imagem, imagem ilusória”, e phantasma, “imagem ilusória”) apenas ambiciona, mas jamais alcança, o conteúdo de ser e de verdade do original, que “é verdadeiramente” e só pode ser conhecido intelectualmente (Féd. 74b-75d; o cosmos físico como um todo é mimêma de um modelo espiritual, Tim. 48e; e cf. a informação em Aristóteles de que Platão teria posto o conceito de participação, methexis, no lugar de um conceito de mimese pitagórico mais antigo: Metafísica 987b). A mimese em Platão conota valor de verdade, falsidade, ilusão, engano e falta de seriedade (paidia, Rep. 602b passim), e portanto desde o início é um conceito que tende a ser negativo. [SCHÄFER]