Mitologia Grega – Hércules – Doze Trabalhos – Javali do Erimanto
(tabby title=”Junito Brandão”)Erimanto é uma escura montanha da Arcádia, onde se escondia um monstruoso javali, que Héracles deveria trazer vivo ao rei de Argos. Com gritos poderosos, o herói fê-lo sair do covil e, atraindo a besta-fera para uma caverna coberta de neve, o fatigou até que lhe foi possível segurá-lo pelo dorso e conduzi-lo ao primo. Ao ver o monstro, Euristeu, apavorado, escondeu-se no jarro de bronze, de que se falou mais acima.
O simbolismo do javali está diretamente relacionado com a tradição hiperbórea, com aquele nostálgico paraíso perdido, onde se localizaria a Ilha dos Bem-Aventurados. Nesse enfoque, segundo comentam J.Chevalier e Alain Gheerbrant, o javali configuraria o poder espiritual, em contraposição ao urso, símbolo do poder temporal. Assim concebida, a simbólica do javali estaria relacionada com o retiro solitário do druida nas florestas: nutre-se da glande do carvalho, árvore sagrada, e a javalina com seus nove filhotes escava a terra em torno da macieira, a árvore da imortalidade. A respeito de toda a simbólica do javali já se falou em Mitologia Grega, Vol. II, p. 65-66.
Héracles, apoderando-se do símbolo do poder espiritual, escala mais um degrau no rito iniciático.
(tabby title=”Mário Meunier”)
Mal chegado ao palácio de seu patrão, Hércules recebeu ordem de partir à procura do javali de Erimanto. Deveria capturar e trazer vivo esse animal terrível, que só deixava seu covil para espalhar a ruína nos belos campos da idílica Arcádia. O Herói partiu armado, como era seu hábito, da clava e das flechas. Após haver batido todos os cerrados e vasculhado muitas matas, Hércules conseguiu descobrir o selvagem animal. Moveu-lhe uma caçada imperdoável, perseguiu-o sem descanso nas altas montanhas cobertas de neve, cansou-o e obrigou-o, enfim, a esconder-se, exausto, numa garganta estreita e sem saída. O javali estava preso e Hércules voltou trazendo-o em seus ombros robustos.
(tabby title=”Karl Kerenyi”)
El lugar originalmente reservado a Ártemis para sus danzas solitarias en las crestas de las montañas, y tan apreciado por ella como el Taigeto, era el monte Erimanto, situado en el ángulo noroccidental de la Arcadia, donde limita con las regiones de la Acaya y la Elide. Hasta allí fue enviado Heracles para su cuarto Trabajo, capturar al jabalí. Cuando la diosa se irritaba con un país, como en la historia de Meleagro, enviaba un jabalí salvaje que arrasaba los campos de los campesinos. Aquí no se nos dice nada parecido, sino tan sólo que los habitantes de la Psófide tenían razón en quejarse del jabalí del Erimanto. Pero tampoco era ésta la razón por la que Heracles tenía que capturarlo vivo y llevarlo a Micenas; a los campesinos les hubiese bastado con que lo matase.
Una vez más, el héroe atravesó el país de Arcadia, y llegó en primer lugar a los bosques de Fóloe, el altiplano situado entre el valle del Al-feo y el Erimanto. En esta región habitaban los centauros, que tenían la misma naturaleza y las mismas costumbres que sus vecinos semi-animales, los lapitas de Tesalia. También había lapitas allí cerca, pero Heracles no tuvo nada que ver con ellos. Fue recibido con hospitalidad por el centauro Folo, que vivía en una cueva. Ofreció carne asada al héroe, mientras él comía carne cruda. En una de las versiones, también estaba presente el sabio Quirón, el más justo de los centauros. Se había retirado ante los lapitas tesalios al Peloponeso, y ahora vivía en el cabo Malea en lugar de en el monte Pellón. ¿Fue Heracles quien pidió el vino o también formaba parte de la hospitalidad de Folo? Abrió el enorme pithos, o tinaja, que contenía el vino que pertenecía a todos los centauros. Se decía que ese vino era un regalo de Dioniso, destinado por el dios para el propio héroe; se trataba de un regalo peligroso, pues evidentemente los centauros todavía no conocían su naturaleza. Las antiguas pinturas sobre vasos representan a menudo la escena en la que Heracles saca vino del enorme recipiente, que hasta entonces nadie había tocado.
El perfume del vino atrajo a los demás centauros, y su fiesta pronto se transformó en una pelea, otra escena muy apreciada por artistas y narradores. Se afirma incluso que la pelea se extendió desde las alturas de Fóloe hasta la cueva de Quirón en el cabo Malea, pues hasta allí persiguió Heracles a los centauros con sus flechas envenenadas. Una flecha que estaba destinada a Élatos lo atravesó y alcanzó al divino Quirón. El héroe intentó curarlo en vano con las medicinas del propio Quirón; el veneno de la hidra era demasiado poderoso. Como había sido herido en la rodilla, el sabio centauro no podía ni curarse ni morir, de modo que se retiró con su herida incurable a una cueva y languideció allí hasta que pudo ofrecerse a Zeus en lugar del atormentado Prometeo. Entonces Quirón murió al fin y Prometeo fue liberado. También la muerte del buen Folo fue causada por una flecha de Heracles. El Centauro extrajo el arma envenenada del cadáver de un centauro y se quedó maravillado de que una cosa tan pequeña pudiese matar a un ser tan grande; la flecha le cayó en el pie y lo mató también. Heracles enterró a su amigo y continuó camino hacia el monte Enmanto.
Allí asustó Heracles al jabalí hasta hacerlo salir de su madriguera, lo condujo hacia las cumbres nevadas, lo capturó con una trampa, se cargó el animal a la espalda y regresó con él a Micenas. Entonces tuvo lugar la escena largamente preparada que tanto gustaba representar a los pintores de cerámica. El héroe, con el jabalí salvaje a la espalda, pisa el borde del recipiente enterrado en el que Euristeo se ha escondido; tan sólo se ve la cabeza y el brazo del cobarde, pues tenía tanto miedo del jabalí como de la muerte.
(tabby title=”Robert Graves”)
O Quarto Trabalho de Hércules consistiu em capturar vivo o javali de Erimanto, uma besta feroz e gigantesca que costumava assolar as encostas cobertas de ciprestes do monte Erimanto e o matagal do monte Lampeia, na Arcádia, causando estragos na região em torno da Psófide. O monte Erimanto leva esse nome por causa de um filho de Apolo que Afrodite castigara com a cegueira por tê-la visto banhar-se nua; Apolo vingou-se, transformando-se num javali e matando Adônis, o amante de Afrodite. A montanha, contudo, é consagrada a Ártemis.
b. Ao passar por Fóloe em sua viagem rumo ao Erimanto — onde matou Sauro, um bandido cruel —, Hércules foi hospedado pelo centauro Folo, filho de Sileno com uma das ninfas do freixo. Folo serviu a Hércules carne assada, embora ele próprio a preferisse crua, e não se atreveu a abrir o cântaro de vinho comunal dos centauros até Hércules recordá-lo de que se tratava do mesmo cântaro que, há quatro gerações, Dionísio havia deixado na caverna precisamente para aquela ocasião. Os centauros zangaram-se ao sentir o cheiro do vinho forte. Armados com grandes rochas, abetos arrancados pela raiz, tições e machados de açougueiro, eles irromperam na caverna de Folo e, enquanto ele se escondia, aterrado, Hércules rechaçou audazmente Ancio e Ágrio, seus primeiros atacantes, com uma descarga de tições. Néfele, então, a avó nubilosa dos centauros, fez desabar uma chuva torrencial que acabou por afrouxar a corda do arco de Hércules e por tornar a terra escorregadia. Apesar disso, Hércules valeu-se da mesma coragem demonstrada em suas façanhas anteriores e matou vários centauros, entre os quais Oreu e Hileu. Os demais fugiram para Maleia, onde os acolheu o rei Quíron, que havia sido expulso do monte Pélion pelos lápitas.
c. Uma flecha lançada pelo arco de Hércules atravessou o braço de Élato e feriu acidentalmente Quíron. Aborrecido, Hércules extraiu a flecha do joelho de seu velho amigo e, apesar de o próprio Quíron ter obtido os remédios para curar a ferida, eles se revelaram inúteis. Tomado por uma dor lancinante, ele se retirou para a sua caverna, embora não pudesse morrer, pois era imortal. Mais tarde, Prometeu ofereceu-se para aceitar a imortalidade em seu lugar, e Zeus aprovou esse acerto. Mas, segundo outra versão, Quíron teria preferido a morte não tanto pelo tormento da dor, mas por já estar cansado de sua longa vida.
d. Os centauros fugiram em várias direções: uns foram com Eurítion para Fóloe; outros, com Nesso para o rio Eveno; alguns acabaram indo para o monte Maleia, e outros ainda para a Sicília, onde foram aniquilados pelas Sereias. Poseidon recebeu os restantes em Elêusis e os ocultou numa montanha. Entre aqueles que Hércules matou mais tarde, figurava o árcade Hômado, que havia tentado violar Alcíone, irmã de Euristeu. Hércules tornou-se muito famoso por haver vingado tão nobremente uma ofensa feita a um inimigo.
e. Enquanto enterrava seus parentes mortos, Folo extraiu uma da flechas de Hércules e pôs-se a examiná-la. “Como uma criatura tão robusta pôde sucumbir a um simples arranhão?”, perguntou-se ele. Mas a flecha escorregou entre os seus dedos e atravessou-lhe o pé, matando-o instantaneamente. Hércules interrompeu a perseguição e voltou para Fóloe, onde enterrou Folo com honras extraordinárias no sopé da montanha que havia recebido o nome dele. Foi nessa ocasião que o rio Anigro adquiriu o odor fétido que agora tem desde a sua nascente no monte Lápito, devido ao fato de um centauro chamado Pilenor, que Hércules havia ferido com uma flecha, ter fugido para lavar ali a sua ferida. Entretanto, há quem afirme que Melampo havia sido o causador de tal fedor alguns anos antes, ao atirar ao Anigro objetos pestilentos utilizados para purificar as filhas de Preto.
f. Hércules partiu então em busca do javali pelas margens do rio Erimanto. Capturar com vida um animal tão selvagem era tarefa de extrema dificuldade; mas ele o fez sair de um matagal a fortes gritos, conduziu-o para um profundo depósito de aluvião formado pela neve e ali saltou sobre o seu lombo. Amarrou-o com correntes e o levou vivo nos ombros para Micenas. Mas, quando soube que os argonautas estavam se reunindo para iniciar sua viagem à Cólquida, ele deixou o javali diante dos portões da praça do mercado e, em vez de aguardar novas ordens de Euristeu, que continuava escondido dentro de sua urna de bronze, partiu com Hilas para se unir à expedição. Não se sabe quem matou o javali capturado, mas as suas presas ainda podem ser vistas no templo de Apolo em Cumas.
g. Conforme algumas versões, Quíron foi ferido acidentalmente por uma flecha que lhe atravessou o pé esquerdo enquanto ele, Folo e o jovem Aquiles estavam hospedando Hércules no monte Pélion. Nove dias depois, Zeus colocou a imagem de Quíron entre as estrelas como a constelação do Centauro. Mas outros afirmam que o Centauro é Folo, que dessa maneira foi homenageado por Zeus por superar todos os homens na arte da antropomancia. O Arqueiro do zodíaco é também um centauro: um certo Croto, que vivia no monte Hélicon, muito querido por suas irmãs adotivas, as musas.
1. Os javalis eram consagrados à Lua por causa de suas presas em forma de meia-lua, e parece que o herdeiro que matava e castrava o seu irmão gêmeo, o rei sagrado, se disfarçava de javali ao fazê-lo (vide 18. 7 e 151. 2). O depósito de aluvião formado pela neve em que o javali de Erimanto foi vencido indica que esse Trabalho ocorreu durante o solstício de inverno. Aqui, Hércules é o Menino Hórus que vinga a morte de seu pai Osíris sobre o seu tio Set, que se apresenta disfarçado de javali; deve-se levar em conta que a proibição egípcia de comer carne de javali era suspensa somente no solstício de inverno. A cerimônia yuletida da cabeça de javali tinha suas origens nesse mesmo triunfo do novo rei sagrado sobre o seu rival. Adônis é assassinado para vingar a morte de Erimanto, o herdeiro do ano anterior, cujo nome, “adivinhando por sorteio”, indica que ele foi sorteado para matar o rei sagrado. Como o monte Erimanto era consagrado a Ártemis, e não a Afrodite, teve de ser Ártemis a deusa que tomou banho, e o rei sagrado, e não seu herdeiro, quem a viu desnuda (vide 22. i).
2. É provável que a batalha de Hércules contra os centauros, assim como a batalha análoga que se produziu no casamento de Pirítoo (vide 102. 2), representasse originalmente o combate ritual entre um rei recentemente instalado e seus adversários, disfarçados de animais. Suas armas tradicionais eram as flechas e, para estabelecer a sua soberania, ele disparava uma flecha na direção de cada uma das quatro partes do firmamento, e a quinta, diretamente para cima. Talvez este mito registre também as guerras fronteiriças entre os helenos e os montanheses pré-helenos da Grécia setentrional.
3. Flechas envenenadas que se cravavam no joelho ou no pé causaram a morte não só de Folo e Quíron como também a de Aquiles e a do discípulo de Quíron (vide 92. 10 e 164. j), ambos reis sagrados da Magnésia, cujas almas, naturalmente, foram recebidas pelas sereias. A presença de centauros em Maleia deriva de uma tradição local segundo a qual Sileno, o pai de Folo, teria nascido lá (Pausânias: III. 25. 2). Os centauros eram frequentemente representados mais como metade cabras do que como metade cavalos. Sua presença em Elêusis, onde Poseidon os escondeu numa montanha, indica que, quando o iniciado nos mistérios celebrava um casamento sagrado com a deusa, participavam da cerimônia bailarinos vestidos de cavalos.
(tabby title=”Enrique de Villena”)
La moralidad deste trabajo y su real historia son espejos a todos y quales quier de los estados aquí notados onde verán el camino de bien bevir y mejor acabar. E singularmente faze al estado de solitario, que fue fallado por sojubgar, quanto en esta vida fazer le puede, el cuerpo al espíritu. Ca el cuerpo toma grandes fuerças quando no es quando no es costreñido y retraýdo, si quiere regir sin esta subjugación se rebela y torna con yra porcina, cenosa y inmunda. Pues quien lo quiere acabar y vencer, así como el solitario conviene acorrerse y retraherse a la soledumbre, juntando sus spirituales fuerças, que se derraman en la compañía y uso de las gentes rehezmente, y allí darse a profunda humildad que es conservadora del solitario estado, teniendo en miente que sean regidas sus sanctas inclinaciones cavallerilmente y discreta con perseverança. E por mucho que el cuerpo lo impugne, la humildad lo llaga y fiere y abaxa el su orgullo y enflaquesce la su fuerça, ésta es virgen jamás no corrompida amostrar que las otras virtudes sin ella se pueden viciar reteniendo el primer nombre, faziendo contrarios abtos como prodigalidad que quier ser vista franqueza e por algunos es llamada audacia y fortaleza, crueldad y justicia. E ansí de las otras en su manera. E jamás sobervia no quiere ser vista humildad, ni puede aver este nombre maguer algunas vezes se ascondió so el manto de humildad. En este passo conozcan que los abtos solitarios de fuera no son umiliación. Ca la humildad no tañida ni viciada está en el coraçón bien que muchas vezes se gana por humildades excripciones o abtos y se arrayga en la voluntad onde no era, cresciendo o mejorando en ella. Con ésta ferirán el sobervio cuerpo de soledumbre o de virtuoso espíritu. Batalla es inmortal o questión o debate que no recibe paz, de la qual el apostol ha fecho expresa mención en sus epístolas. Sepan aún qué poco valdría domar el cuerpo por la ferida de humildad sin la perseverança no le montava, continuando de virtud fasta que el spíritu sea suelto de la corporal atadura. En esta guisa avrá el solitario vitoria y vencimiento del puerco calidónico y fecho exemplo a los otros de aquel estado que después seguiéndolo será dina cosa fenchirse en aquel mismo o apescersele en tal abto. Semejable esto faría al estado de muger que considerada la flaqueza de sus fuerças deve tener en miente este puerco no la sobre, estúdianse vençerlo por umildad y matarlo por perseverança, aviendo paciencia en los reprehendimientos que sus maridos o mayores le farían, guardando (todavía) 82 poridad y censeridad virginal o conjugal o vidual segund Dios la disporna fasta que la ánima vença al cuerpo dexándolo muerto en los montes deste mundo. Así de los otros estados podréys ezemplificar por la suscinta o cogida o quedada manera en el reposo de vuestro entendimiento, buscando los grados y propiedades de las semejanças de los otros en este capítulo presentados. (Contribuição de Antonio Carneiro. Enrique de Villena, Los doze trabajos de Hércules (Burgos, Juan de Burgos, 1499), ed. Eva Soler Sasera – Anexos de la Revista Lemir (2005) ISSN 1579-735X)
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