kenosis (NP)

gr. kenón. Como objeto do pensamento filosófico, o espaço vai ser tratado sob diversas apelações pelos primeiros filósofos gregos. Já Anaxímenes e Anaximandro pensam a matéria originária como sendo estendida sem limite espacial nem temporal. Enquanto os Eleatas Parmênides e Melisso negavam, em conformidade a sua ontologia, a existência do vazio (= não-ser), os pitagóricos afirmavam um vazio infinito cercando o mundo. Zenão de Eleia, a fim de mostrar a impossibilidade do movimento e da pluralidade dos seres, mostrou as aporias inerentes ao conceito de extensão, infinitamente divisível ou não. Em oposição a Empédocles e Anaxágoras, que como os Eleatas negavam o vazio, os atomistas consideravam o kenon como complemento indispensável dos átomos, sendo dado que ele os separa e torna assim possível seu movimento. O conjunto da especulação pré-socrática sobre a oposição entre o pleno (to pleon) e o vazio (to kenon), que encontra correspondência ontológica na relação entre o ser (material ou não) e o não-ser, comportava portanto a elucidação dos problemas relativos à natureza e à dimensão do espaço, e a sua diferenciação dos corpos que o ocupam, embora o termo khora só seja utilizado a partir de Platão. Para ele, o espaço é a condição necessária para que as Ideias transcendentes possam ser realizadas no mundo do devir sensível. Sem forma ele mesmo, o espaço tem por função receber as imagens cambiantes das Formas ideais, sem que no entanto possa ser assimilado à categoria de matéria constituindo os corpos sensíveis. Embora as metáforas obscuras do Timeu tornem difícil uma apreciação definitiva, Platão parece pensar o espaço como receptáculo, e a matéria neste receptáculo como um espaço vazio limitado pelas superfícies geométricas. (NP)