Excerto de KINGSLEY, Peter. Reality. Inverness: The Golden Sufi Center, 2003, p. 77-78.
Se estás te perguntando por que Parmênides se concentra tão exclusivamente no pensamento, a resposta é bastante simples. Ele não o faz.
A partir do momento em que ele aborda o assunto do pensamento – quando introduz o enigma sobre os dois caminhos diferentes que “existem para o pensamento” – ele usa uma palavra específica para isto em grego. A palavra é noein, que foi um redemoinho de sutis noções.
Certamente, na época de Parmênides, esta palavra tinha o senso de pensar. Mas havia muito mais do que isso. Essa única palavra se referia tanto ao ato de perceber quanto ao ato de pensar: direcionar a percepção intuitiva, bem como a percepção através e com nossos sentidos. E, mesmo além disso, descrevia exatamente o que hoje em dia nos referiríamos como consciência ou consciência.
Uma vasta gama de significados pode ser irritante para nossas mentes modernas. Mas precisamos lembrar que todos esses sentidos diferentes só parecem diferentes ou separados para nós – e que seria um grande erro acreditar que Parmênides estava se referindo com essa palavra a nada além dos pequenos pensamentos girando em nossas cabeças.
Ele a estava usando para cobrir todo o espectro de nossa existência como seres conscientes, sensíveis e inteligentes. E o caminho gradualmente sendo traçado para nós, aquele que se espera que sigamos, é uma linha absolutamente inflexível de cem por cento de aceitação: o que quer que estejamos cientes de, assim é; o que quer que percebamos ou notemos, assim é; o que quer que pensemos, assim é.
Mas tão importante quanto este endosso, esta aceitação total, é o fato de Parmênides também estar também dizendo outra coisa quando identifica formalmente a existência com o que existe para perceber ou pensar.
Não há nada que exista exceto o que pode ser pensado ou percebido. Em outras palavras, o mundo não é em absoluto o que pensamos que é; ou melhor, é exatamente o que pensamos, mas apenas porque pensamos. E o que quer que pensemos que não é, isso é o que é assim também.
Não somos pequenas fagulhas insignificantes perdidas em alguma margem de um vasto universo impessoal – a menos que desejemos acreditar que somos. Em última análise, o mundo é exatamente onde acontecemos ser/estar. Todo o resto é nossa imaginação. Onde quer que estejas, em algum corredor sombrio ou observando árvores do lado de fora da janela, este é o centro da realidade e teus pensamentos são suas margens.
A situação é de absoluta simplicidade: simples demais para nossa mente pensante entender. A existência não está em nenhum outro lugar, não está em algum lugar separado de nós. Mas realmente entender isso significa ter que assumir uma tremenda responsabilidade pelo que somos.
E assim que se vislumbra isto, qualquer sensação de isolamento de qualquer coisa que seja se dissolve. No momento em que entendes que o único critério da realidade é pensamento e percepção, que não há nada que não é, então tudo está subitamente unido – ligado a si mesmo em um continuum perfeito.
Não há nada além de plenitude, plenitude absoluta. Toda a existência é um todo completo e ininterrupto.